A tradição poética pode ser interpretada como uma infinitude de vozes em atrito que, em fim de contas ou a certa distância, resulta em harmonia, ou melhor: sugere uma coesão dinâmica onde verticalizações sincrônicas restauram o acervo da diacronia para as contingências do agora-agora. Cada poeta ou movimento, na conciliação de suas contradições, representa, portanto, um duplo abreviado de semelhante tradição. Qualquer experiência de linguagem é sempre irredutível e dura em seu centro, nenhuma delas se deixa comparar com facilidade. Mas, o mais das vezes, alguns dos seus funcionários — aqueles que só trabalham em benefício de si próprios — se esforçam em fazer com que elas se aniquilem umas às outras. Pois, cada poeta com sua obra se refere sem reservas (seja como continuação, seja como ruptura) à tradição, e não raro a reivindica apenas para si (seja como seu crítico, seja como seu guarda-costas). Do mesmo modo, jamais conseguirá admitir sua partilha sem anular-se. Entretanto, esse poe