Todo branco tem um amigo negão que é gente finíssima, uma simpatia e super divertido. Negão é uma pessoa que sempre é chamada de “negão”, e esta pessoa jamais será referida por qualquer outro nome como Pedro, João, Aires. Parece não haver nome que grude à sua pele. Todo negão tem vários amigos brancos que se orgulham de não ser racistas, tanto que, numa boa, tratam o amigo negão referindo-se a ele assim “o negão”. E ele não vê problema nenhum nisto. Todo negão é um blackface . Sua ginga é superestimada e inigualável. Todo negão está detido em si mesmo. Todo negão quando volta para a sua quebrada encontra outros idênticos a ele e todos entre si se tratam por “negão”. Todo negão não pode deixar de ser negão. Quando esta essência está em risco, sempre surge alguém para chamar sua atenção com a seguinte frase: “ah, para com isso, negão!”. Mussum é o negão que todo branco gostaria de ter a disposição em sua casa para animar as festinhas. Quando éramos criança
Ronald Augusto é poeta e ensaísta. Licenciado em Filosofia pela UFRGS e Mestre em Letras (Teoria, Crítica e Comparatismo) pela mesma universidade. É autor de, entre outros, Homem ao Rubro (1983), Vá de Valha (1992), Confissões Aplicadas (2004), No Assoalho Duro (2007), Cair de Costas (2012), Oliveira Silveira: poesia reunida (2012), e Decupagens Assim (2012). É colunista do site Sul21 https://www.sul21.com.br/editoria/colunas/ronald-augusto/