Depois da excessiva caridade interpretativa dispensada ao gesto (tido e havido como antropofágico) de Daniel Alves e, de resto, a contrapelo das motivações - segundo o próprio jogador -, casuais e quase evangélicas que o levaram a cometê-lo; depois de o debate sobre o preconceito racial quase ter se transformado num quadro do Zorra Total ou do Esquenta , graças à adesão festiva dos macacos brancos, tanto os célebres, como os não célebres, à estúpida hashtag ; depois de o cinismo ideológico da atitude classe média apresentar a devoração da banana como um gesto superior às denúncias e aos discursos contra o racismo (já que estes teriam se tornado monótonos), por ser inovador e não indicar mácula de irritação, mas, sim, de maturidade e de espírito transcendente; depois de o torcedor-quem do Villareal , autor do ato contra o jogador Daniel Alves, ter sido exemplarmente punido (seus ingressos para a temporada foram suspensos e seu acesso ao Estádio El Madrigal foi perm
Ronald Augusto é poeta e ensaísta. Licenciado em Filosofia pela UFRGS e Mestre em Letras (Teoria, Crítica e Comparatismo) pela mesma universidade. É autor de, entre outros, Homem ao Rubro (1983), Vá de Valha (1992), Confissões Aplicadas (2004), No Assoalho Duro (2007), Cair de Costas (2012), Oliveira Silveira: poesia reunida (2012), e Decupagens Assim (2012). É colunista do site Sul21 https://www.sul21.com.br/editoria/colunas/ronald-augusto/