O futebol é uma forma de arte? Não me refiro aqui ao lugar-comum controverso do “futebol-arte”; Pelé não era um “bailarino”, mas sim o grande designer da linguagem. A pergunta pode parecer um tanto estapafúrdia, mas se observarmos o panorama da arte contemporânea chegaremos à conclusão de que esta é uma ilusão possível. No belo filme Nós que aqui estamos por vós esperamos de Marcelo Masagão, há uma sequência onde a operação de edição do filme justapõe Fred Astaire e Garrincha dançando ao som da mesma melodia. Coreógrafos, ambos desenhavam movimentos. A música popular moderna e contemporânea, num certo sentido, é uma invenção da televisão. Um amigo meu, temeroso da violência nos estádios, disse que o payperview é a solução, que ele consegue ver tudo em detalhes, e que “se sente dentro do estádio”. Mas a televisão, na presunção realista de arremessar a partida de futebol para o meio da sala do caro telespectador, acaba por cortá-la em mil fragmentos que jamais se unirão. Não sei se o
Ronald Augusto é poeta e ensaísta. Licenciado em Filosofia pela UFRGS e Mestre em Letras (Teoria, Crítica e Comparatismo) pela mesma universidade. É autor de, entre outros, Homem ao Rubro (1983), Vá de Valha (1992), Confissões Aplicadas (2004), No Assoalho Duro (2007), Cair de Costas (2012), Oliveira Silveira: poesia reunida (2012), e Decupagens Assim (2012). É colunista do site Sul21 https://www.sul21.com.br/editoria/colunas/ronald-augusto/