Diversidade e
pertencimento culturais
Ronald
Augusto[1]
Diversidade cultural
implica um dilema, a saber: é preciso reconhecer tanto a minha particularidade,
quanto a particularidade do outro, mas ambas como instâncias aproximativas do
universal. Isto é, graças às particularidades é que podemos conceber o
universal como uma categoria em movimento. O conceito de Homem por meio do qual
aceitamos, a princípio, que o outro pode ser considerado como “meu semelhante,
meu irmão”, só é possível porque a imagem intuitiva que fazemos de Homem e, por
outro lado, de nós mesmos, se constitui de uma infinidade de tipos humanos
particulares que, no entanto, apresentam muitos traços em comum. Esses traços
comuns é que nos permitem dizer que Malcom X, por exemplo, além de suas
singularidades, é um homem como qualquer outro.
O conflito cultural toma
o lugar da diversidade cultural quando pretendemos universalizar nossa
particularidade, isto é, quando lutamos apenas pelo nosso reconhecimento sem
levar em consideração um simétrico desejo de reconhecimento do outro; quando um
grupo em luta por reconhecimento tenta impor a sua particularidade sobre a de
outro grupo. O nazismo se nutriu dessa visão e tentou inverter a equação: ao
invés de afirmar que o ariano era um homem igual aos demais, esta ideologia fez
de tudo para que o Homem fosse reconhecido apenas como sendo o ariano. O modelo
de homem deveria ser o ariano.
Então, de acordo com a
noção de diversidade cultural, o outro tem a capacidade de ser, ao mesmo tempo,
tanto um igual, como um estranho. O pertencimento a uma cultura ou a posse de
dados culturais específicos não significa uma condenação absoluta. Assim como
há uma mobilidade social, é possível pensar em uma mobilidade ou maleabilidade
cultural. Com relação à herança cultural – hábitos e costumes –, além de nos
reconhecermos herdeiros de tais realidades, há algo mais forte a ser feito, a
saber, precisamos pensar os limites e as possibilidades dessa herança,
avaliá-la e colocá-la em relação. Relativizar também significa “pôr [-se] em
relação com”. Como não existe cultura pura em sentido estrito, a dinâmica
cultural pressupõe um situar-se em constante relação com o outro que, se bem
consideradas as implicações, tem a capacidade de me fornecer a medida de mim
mesmo.
[1] Ronald Augusto é poeta,
músico, letrista e ensaísta. É autor de, entre outros, Homem ao Rubro (1983), Puya
(1987), Kânhamo (1987), Vá de Valha (1992), Confissões Aplicadas (2004), No
Assoalho Duro (2007), Cair de Costas
(2012) e Decupagens Assim (2012). Dá
expediente no blog www.poesia-pau.blgspot.com
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