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anotações para uma outra aula



Estilo = aquele conjunto de procedimentos através dos quais o texto consegue se desviar das normas estatísticas da linguagem, da língua. 

Há a norma culta escrita do português / mas a língua falada tem mais estilo porque desvia da norma, no entanto, quando a ocorrência de um desvio linguístico se torna mais elevada, esse desvio vira uma norma estatística.

O que acontece na prática comunicativa utilitária: os elementos linguísticos nessas mensagens estão, via de regra, automatizados.

Já na poesia se dá o oposto: os elementos, os efeitos linguísticos são desautomatizados ou são postos em primeiro plano.

Elementos linguísticos automatizados não chamam atenção para si; simplesmente comunicam, levam a mensagem. São portadores de mensagens. Elementos linguísticos automatizados ocorrem com probabilidade muito alta, portanto, são redundantes. Assim teremos chance de poesia sempre que identificarmos num texto em termos estatísticos uma baixa taxa de ocorrência de elementos redundantes. Assim, mais estilo, mais função poética.

Norma: “Desembarca hoje no Aeroporto Salgado Filho o músico Paul McCartney”.

Desvio: “Era briluz. As lesmolisas touvas/ roldavam e relviam nos gramilvos/ estavam mimsicais as pintalouvas/ e os momirratos davam grilvos”. [Alice através dos espelhos...]

A poesia é, ela mesma, a mensagem. A poesia não é o que ela comunica, mas a maneira pela qual ela se revela como a própria comunicação.

Mas voltando ao conceito de estilo “aquele conjunto de procedimentos através dos quais o texto consegue se desviar das normas estatísticas da linguagem, da língua”. Se esses procedimentos (que antes significavam um desvio) começarem a apresentar uma alta taxa de ocorrência, vão se transformar em norma que por sua vez exigirá novos procedimentos...

Estilo, função poética são conquistas permanentes. Cada poema inaugura e exaure uma chance de linguagem.

Há regras para o ritual da corte, para o doce idílio do namoro em seu começo? Sim e não. Sim enquanto você ainda não conhece seu parceiro; e não, depois que você já o conhece. O mesmo vale para a poesia. No início é necessário observar uma série de regras, fundamentos, noções, o legado da tradição, etc. Depois, quando esses tópicos são assimilados, não há mais regras.

Repetir para aprender, aprender para criar.


Mas o que é poesia hoje? Antes nós achávamos que sabíamos o que era poesia, mas tão só por causa das convenções da metrificação.

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