barato
uma
irritação, uma irradiação, essa hostilidade semiótica
com o
rame-rame de certa tradição poética aqui e alhures
barato algarávico
e putifar
putanheiro de sereias ambíguas
todos os
iauaretês urram em sua poesia que extravaza, que
exorbita
fragrância de noigandres
barato como bravata ao poema noioso
a poesia
não é mais suficiente
o poeta
não é mais um sufi
ricardo manda
à merda o ágio associado à hagiologia do poeta
lágrimas
no olho do peixe morto: “íris-náusea”
barato
viver de
viver a
poesia
é uma
espécie de miséria
verdadeira
“vida bosta” que ricardo pedrosa alves cospe que nem linguagem
sobre os
opúsculos líricos da produção dos iguais
em
imorredouros metros inumeráveis
a poesia
como prova dos nove vezes nada
mas
“poemas bons são porrada”
quando habemus poemas
bons
sobre barato afivelo a máscara de
baudelaire
mestre (na acepção
em
que ezra pound o empregava) e digo, “através de”, o seguinte:
no
conjunto de poemas de ricardo pedrosa, o poeta surge sob a figura
do
artífice trôpego por mauvaise conscience, o trapeiro
que
fuça o moderno da vulgaridade quotidiana (e de sua poesia “correta”)
sob
os despojos da sua ideologia e do seu étimo, em busca de um não-eco épico, ou
de um outro poema seduzido pelo signo precário e sua entropia;
agora,
sim, cito baudelaire:
“temos
aqui um homem - ele deve apanhar na capital
o
lixo do dia que passou.
tudo
o que a grande cidade deitou fora, tudo o que perdeu,
tudo
o que despreza, tudo o que destrói - ele registra e coleciona.
coleciona
os anais da desordem,
o
cafarnaum da devassidão, seleciona as coisas,
escolhe-as
com inteligência;
procede
como um avarento em relação a um tesouro
e
agarra o entulho que nas maxilas da deusa da indústria
tomará
a forma de objetos úteis ou agradáveis”.
o
poeta-trapeiro de barato,
baudelairiano e pedrosiano, mapeia a metrópole
e
o campo (o trampo) da poesia do seu tempo,
a partir
de um escrutínio pansemiótico, seleciona e combina sintagmas-coisas,
fragmentos,
objetos-antiguidades
colecionáveis,
desentranhados
pósteros à dissolução do presente,
visando
um poema, um modelo de sensibilidade,
um
sonho exato, ainda que hard, sob
pórticos voluptuosos.
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