O intruso é um
grande talento em forma fixa inventado pelas regras sociais do século XII, e patrocinado
provavelmente pelo senhor Danielo. É ainda um espécime típico do know-how conteudístico da Provença. A forma do intruso se
caracteriza por uma “magreza” de expressão atinente à envergadura do seu
físico. Gestos e recursos disponíveis ao vulgo não lhe são particularmente
apreciáveis a ponto de levar a cabo o discurso mundano do seu comportamento. A
extrema limitação de meios e a estrutura recorrente com que fia aos outros sua
empresa pessoal, criam uma série de desafios à imaginação do observador.
Vejamos: o
sotaque ortodoxo dispõe-se em enunciados leves, medidos por tomadas de fôlego
emprestadas ao envoi mais
convencional; os tabuísmos terminam
não em risos propriamente ditos, mas em safadezas-riso que obedecem a uma
distribuição padronizada: a última safadeza-riso de cada cogitação pública se
repete no final da primeira cogitação da réplica seguinte. As palavras chulas e
derradeiras dos argumentos da primeira cogitação recorrem, noutra ordem, sempre
no fim das demais cogitações. Ele fala, a um só tempo, “através de” e por si
mesmo, de coisas que derivam em salvas sonoras e nos sugerem, segundo sua
lógica, verdades universais que fulguram diante da penumbra de nossa alma.
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