Em
Falso começo Pedro Gonzaga demonstra – ou segue demonstrando seu – adestramento
técnico; o poeta conhece os ritmos da tradição do verso livre modernista, o que
lhe permite reagir às fraturas excessivas da poesia dos seus contemporâneos de
geração que, o mais das vezes, acabam escrevendo uma espécie de prosa disfarçada
em versos interrompidos aleatoriamente. Pedro é um jovem poeta que não teme, portanto,
“repetir para aprender”, pois sabe que esse é o requisito indispensável na
direção de “aprender para criar”. Seus poemas revelam uma voz em tom
coloquial-irônico; um lirismo preciso que não capitula ao sentimentalismo votado
a seduzir o leitor crédulo. Falso
começo se oferece ao leitor como um conjunto de bons
poemas que recriam o cotidiano por um viés mais estetizante do que virtuosístico.
Condenação / Pedro Gonzaga
Mais uma vez
verão dos diabos
a carne gentil
mal desvelada
salubre e daninha
a vibração da vida
antes da noite
antes dos insetos
um cheiro de lavanda
só mais uma vez
denunciará meu destino
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