O torcedor de futebol
não merece respeito. Ele é racista, homofóbico, misógino. O torcedor é covarde.
Sua suposta valentia se deve à multidão da qual ela se nutre e na qual está
imersa e protegida. Ele é um pequeno déspota. O torcedor é uma criança grande e
mimada, isto é, um sem-educação que não sabe lidar com o revés ou com a
frustração. Ofensivo, intimidador, desrespeitoso, são alguns dos predicados do
torcedor. O torcedor é um crente de uma religião de bárbaros. O torcedor é um
problema social. Ele não pensa, apenas reage. O torcedor não sabe fazer
distinções. O torcedor é um tremendo acidente na direção do bom futebol.
O foco do meu
comentário é essa coisa chamada "torcedor", não é o Fabrício, ele
mesmo, o objeto do meu interesse. No quadro dos fatos futebolísticos a atitude
do jogador talvez nem deva ser encarada como uma excepcionalidade, mas ela está
sendo tratada como tal em prejuízo daquilo que de fato interessa, ou seja, o
problema do intolerável e crescente destempero do torcedor que naturalizamos
com o nosso cinismo risonho.
Torcedor e jogador não
são uma e a mesma coisa, se isso fosse verdade, e graças a uma fabulosa empatia,
eles se entenderiam na riqueza e na pobreza dos desempenhos e resultados. O que
me espanta, mas nem tanto, é a dificuldade em fazer o movimento da autorreflexão
com relação ao torcedor, afinal de contas, somos, cada um de nós, uma instância
dessa figura. Na verdade, apontar para o Fabrício é melhor do que se
reconhecer, ainda que brevemente, como esse torcedor irracional (não importa o
clube) que está sempre à beira de fazer e de falar merda diante do menor revés
relacionado ao seu pathos, isto é, um
grupo de 11 caras brincando com uma bola.
Comments