Numa época em que a prática da autopromoção faculta a muito poeta de segunda categoria um lugar de destaque no florilégio medíocre das letras “locais” (Porto Alegre, São Paulo, Florianópolis, Bahia, a escolher...), o silêncio vil e incivil em torno do nome de Oliveira Silveira - sem esquecer que para isso contribui a sua orgulhosa e solitária modéstia - pode ser interpretado como um sinal de distinção. Em resumo: quem não leu ainda a poesia de Oliveira, seja por imperícia, seja por má-fé, que não atrapalhe, por favor.
2 poemas de Oliveira Silveira
OBRIGADO, MINHA TERRA
Obrigado rios de São Pedro
pelo peso da água em meu remo.
Feitorias do linho-cânhamo
obrigado pelos lanhos.
Obrigado loiro trigo
pelo contraste comigo.
Obrigado lavoura
pelas vergas no meu couro.
Obrigado charqueadas
por minhas feridas salgadas.
Te agradeço Rio Grande
o doce e o amargo
pelos quais te fiz meu pago
e as fronteiras fraternas
por onde busquei outras terras.
Agradeço teu peso em meus ombros
músculos braços e lombo.
Por ser linha de frente no perigo
lanceando teus inimigos.
Muito obrigado
pelo ditado
“negro em posição
é encrenca no galpão”.
Obrigado pelo preconceito
com que até hoje me aceitas.
Muito obrigado pela cor do emprego
que não me dás porque sou negro.
E pelo torto direito
de te nomear pelos defeitos.
Tens o lado bom também
- terra natal sempre tem.
Agradeço de todo o coração
e sem nenhum perdão.
(Pêlo escuro, 1977)
UM CHARQUE
um charque esta alma retalhada
um charque esta alma ressequida
um charque esta alma aqui
um charque
charque sal
charque sol
charque sul
esta carne rasgando-se sem lâmina
este sangue ancestral ferido ardendo
esta alma negra sal e sol nos lanhos
um charque
charque sal
charque sol
charque sul
você sabe uma faca abrindo fendas
na carne um raio um terremoto um mar
de sangue pelo meio uma alma repartida
um charque
charque sal
charque sol
charque sul
Obrigado rios de São Pedro
pelo peso da água em meu remo.
Feitorias do linho-cânhamo
obrigado pelos lanhos.
Obrigado loiro trigo
pelo contraste comigo.
Obrigado lavoura
pelas vergas no meu couro.
Obrigado charqueadas
por minhas feridas salgadas.
Te agradeço Rio Grande
o doce e o amargo
pelos quais te fiz meu pago
e as fronteiras fraternas
por onde busquei outras terras.
Agradeço teu peso em meus ombros
músculos braços e lombo.
Por ser linha de frente no perigo
lanceando teus inimigos.
Muito obrigado
pelo ditado
“negro em posição
é encrenca no galpão”.
Obrigado pelo preconceito
com que até hoje me aceitas.
Muito obrigado pela cor do emprego
que não me dás porque sou negro.
E pelo torto direito
de te nomear pelos defeitos.
Tens o lado bom também
- terra natal sempre tem.
Agradeço de todo o coração
e sem nenhum perdão.
(Pêlo escuro, 1977)
UM CHARQUE
um charque esta alma retalhada
um charque esta alma ressequida
um charque esta alma aqui
um charque
charque sal
charque sol
charque sul
esta carne rasgando-se sem lâmina
este sangue ancestral ferido ardendo
esta alma negra sal e sol nos lanhos
um charque
charque sal
charque sol
charque sul
você sabe uma faca abrindo fendas
na carne um raio um terremoto um mar
de sangue pelo meio uma alma repartida
um charque
charque sal
charque sol
charque sul
(Pêlo escuro, 1977)
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