Uma pergunta que nasce com o alto modernismo e chega até o nosso momento, é a seguinte: afinal, o que é poesia? Na verdade, a poesia que realmente importa não escapa ou jamais escapou a essa indagação, ou seja, ela se constrói, mesmo, a partir dos destroços dessa e de outras certezas. Por sua vez, algumas vozes da poética atual, por preferirem dar as costas aos seus dilemas elogiando o “poema com poesia” (como assim?) em prejuízo daquilo que eles chamam de “experimentalismo inconseqüente”, argumentam que qualquer poesia é melhor do que a não-poesia. A contemporaneidade, talvez como reação à extrema negatividade crítica presente nas idéias de meados do século 20, apresenta uma forte tendência para a mediocridade afirmativa; a tolerância em tom pastel.
A arte contemporânea, por exemplo, avança com mais coragem no terreno da anti-arte. Não se pode afirmar se os cacos de um copo sobre uma mesa branca representam um objeto de arte ou não. Em fim de contas, fica a cargo do observador-fruidor de arte decidir de maneira indecidível, isto é, provisoriamente, se tal ou qual fenômeno participa dos domínios artísticos. Não obstante os riscos, não digo de um mergulho no vazio, mas de uma certa centrifugação desmesurada de sentidos, implicados neste fazer radical, a arte contemporânea permanece viva, instigadora, convidando o espectador para o espaço da co-autoria, da colaboração. Opera aberta. A anti-arte de Marcel Duchamp propõe a pergunta incômoda: o que é arte?
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Cândido.