O título do novo CD do cantor e compositor Tom Gil, Do sertão ao porto, resume um pouco de sua trajetória vivencial e musical. A sonoridade, as referências e as parcerias que passam pelo mixer de Do sertão ao porto, traduzem esteticamente um percurso cuja origem está em Várzea Alegre, interior do Ceará, e o lugar de chegada, por um feliz acaso, em Porto Alegre. Ouça-se o qualificativo “alegre” ligando esses dois pontos. Ou não.
Mas, Tom Gil poderia ter aportado em qualquer outra megacidade, pois é isso que representa o “porto” no desbravamento do seu prisma sonoro: lugar de amplas transações poético-musicais. “O aeroporto em frente me dá lições de partir”, diz um poema de Manuel Bandeira. Tom Gil aprende também a partir e abandonar. Mas, desde o ponto extremo do porto, reconhece a importância da memória.
Em Do sertão ao porto, curtimos o cantor cujo timbre todo especial tem tanto de sarcasmo quanto de malandra fragilidade. Tom Gil, o zabumbeiro zombeteiro e o compositor de grandes baladas mais classudas do que pop. Tom Gil se deleita tanto com a remota vanguarda de Jackson do Pandeiro (“Dois Passarim”, faixa 3), como com ressonâncias da chamada vanguarda paulista da década de 1980 (“No ar”, faixa 6).
Vindo do sertão até aqui, Tom Gil recolheu diversas informações pelo caminho: desorientou-se pela “violáctea” olhando da janela para as estrelas; passou por quilombos; viu em “amar é...” a maré subir; desistiu de ouvir lero e lenga-lenga de “politicu”; fez candombe com bye bye baião; e pirou e conspirou com excelentes músicos e parceiros, tais como Cau Karam, Risomá Cordeiro, Mimo Aires, Ana Krüeger, Cândido Rolim e Ricardo Aleixo, entre outros. E é isso que se oferece ao prezado ouvinte: música pra iaiá e ioiô. Música pra quebrar as cadeiras e as palavras das idéias feitas. Vida boa Do sertão ao porto.
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Cândido.