letra de música não é bem poesia. sempre lanço mão de uma comparação para tentar clarificar minha opinião a respeito do assunto (mas sei que ao fim e ao cabo a recepção é que terá a última palavra sobre o que quer que seja, e, ultimamente, como a hibridação é uma vaga avassaladora a levar e lavar tudo de roldão, é natural aceitar que a poesia tenha se deixado seqüestrar pela mpb e seus devotos, além disso, os poetas se sentem desinflados porque sua visibilidade está longe daquela experimentada pelos compositores populares...), continuando, a comparação é a seguinte: a poesia está para a letra de música (palavra voando e inextrincável da melodia) assim como o teatro está para o cinema. é inegável que há um parentesco entre essas formas artísticas, mas cada uma tem a sua semiótica. elas se encontram (em algum lugar), mas não se confundem. agora, para encerrar de um modo bem tosco o que, a rigor, mal começou: acho que os poetas, de uns tempos para cá, começaram a se intrometer demais nas coisas da música popular, querem levar o debate para o andar de cima, para a "cobertura". eles é que falam em caetano, chico, paul mccartney, arnaldo antunes, etc. mas, onde andam, e onde entram nessa discussão os letristas-músicos "menos" cultivados e geniais, o pessoal da “laje”, como, p.ex., ismael silva, nelson cavaquinho, candeia, zé keti, tim maia, antonio marcos, e outros, hein? tá, alguém, chegando num passo acelerado, dirá que “eles são poetas também!”. an-han... mas, aí eu passo. deu pra bola. um homem só não é temido nem estimado.
por uma literatura de várzea por uma literatura lavada de notas de pé de página por uma literatura sem seguidores por uma literatura não endogâmica por uma literatura infiel à realidade por uma literatura impertinente por uma literatura não poética por uma literatura que não capitule à noção de "obra", acúmulo de feitos por uma literatura que não seja o corolário de oficinas de escrita criativa por uma literatura que não sucumba à chapa de que o menos é mais por uma literatura desobediente ao mercado livreiro-editorial por uma literatura imprudente por uma literatura sem cacoetes, isto é, o oposto do que faz mia couto por uma literatura que não se confunda com o ativismo de facebook por uma literatura que não seja imprescindível por uma literatura sem literatos por uma literatura, como disse uma vez lezama, livre dos tarados protetores das letras por uma literatura sem mediadores de leitura por uma literatura não inspirada em filósofos fr...
Comments
ainda que o chico buarque diga- não vejo como falsa modéstia, não- que ele é um letrista, vejo-o poeta. E dos bons.
Letra de música, à vezes é poema, às vezes não.
gostei de tudo aqui.
Pretendo voltar. Dewscobri o blog, vc e seus leitores foi muito bom.
abraços gerais
Bea- Compulsão Diária