foto: roberto schmitt-prym
Boda / mirta villas boas ferrari
Um riso fugindo da boca
O olhar que se demora
Dois em um,
Agora.
Sequência métrica
1 2 3 4 5 6 7 8
Um/ri/so/fu/gin/do/da/bo/ca
1 2 3 4 5 6 7
O/o/lhar/que/se/de/mo/ra
1 2 3
Dois/em/um,
1 2
A/go/ra.
Sequência de assonâncias
bOdA
Um rIsO fUgIndO da bOcA [umriso/fugindo: assonância interna e rimas toantes]
O Olhar que se DemOrA
DOis em Um,
AgOrA.
Em termos icônicos a palavra “boda” já abriga a parelha, o casal, isto é: bOdA, as vogais “o” (ele) e “a” (ela). No mesmo sentido, e com a mesma liberdade, podemos ler a persistência anagramática do vocábulo “amor” no interior do substantivo “deMORA”.
Mirta dissimula um poema (ou seja, uma coesão de forma e fundo) dentro de uma diminuta narrativa afetiva. O instantâneo se prolonga por meio de efeitos reiterativos, rítmicos e rímicos. Os versos, que vão encurtando (o primeiro com 8 e o último com 2 sílabas métricas, ambos em contagem par) sugerem o fim de um ciclo marcado pelo rito do casamento. Um poema que diz o essencial sem temer o pouco com que é feito. Uma pequena jóia verbal: “lágrimalegria”.
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