Quando
o mundo branco se põe a fazer elogios desmedidos a respeito do trabalho ou da
personalidade de um negro, sempre me preparo para o pior. Por favor, não me
venham falar em baixa estima, que estou na defensiva e tudo mais. O furo aqui é
bem mais embaixo. Segundo Friedrich Nietzsche “o comentário demasiadamente
elogioso produz mais indiscrições que a censura”. As louvações, neste caso, têm
fundo culposo; se efetivam sem que
possamos lhes prever as conseqüências. Desvelam a imprudente face do
preconceito. Para compensar toda uma série de episódios aniquiladores do ânimo
de muitas personalidades negras fundamentais para a nossa cultura, o senso
comum carrega nas tintas da apologia purgativa sobre aqueles que parecem ter
vivido vidas que poderiam ter sido, mas que não foram. Parodiando o adágio
relativo à vingança, pode-se dizer que tal espécie de elogio é um prato que se
oferece frio ao seu maior interessado. Por essa razão, Cruz e Sousa é o Dante
negro; Leônidas da Silva, o Diamante Negro, Elizeth é a Divina, e assim por
diante.
por uma literatura de várzea por uma literatura lavada de notas de pé de página por uma literatura sem seguidores por uma literatura não endogâmica por uma literatura infiel à realidade por uma literatura impertinente por uma literatura não poética por uma literatura que não capitule à noção de "obra", acúmulo de feitos por uma literatura que não seja o corolário de oficinas de escrita criativa por uma literatura que não sucumba à chapa de que o menos é mais por uma literatura desobediente ao mercado livreiro-editorial por uma literatura imprudente por uma literatura sem cacoetes, isto é, o oposto do que faz mia couto por uma literatura que não se confunda com o ativismo de facebook por uma literatura que não seja imprescindível por uma literatura sem literatos por uma literatura, como disse uma vez lezama, livre dos tarados protetores das letras por uma literatura sem mediadores de leitura por uma literatura não inspirada em filósofos fr...
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