Na série Videoteca
de la memoria literaria, da Radiotelevisión Española, há uma entrevista
excelente em que Joan Brossa – ao contrário do âncora em sua envergadura quase
aristocrática – se apresenta modestamente vestido, de unhas e dedos sujos e enquanto
fala, retorquindo a Joaquín Soler Serrano, deixa entrever o estado lastimável de
seus dentes. Talvez por isso, no início da entrevista, o poeta se mostre um
pouco esquivo.
Mas Brossa responde e contra-argumenta com
simplicidade e argúcia às questões formuladas pelo aplicado interlocutor. Por
exemplo, com relação à questão-chave da poesia visual, isto é, se é a imagem se
impondo à palavra ou, pelo contrário, se é a palavra a subjugar a imagem, o
poeta catalão responde dizendo que não é nem uma coisa nem outra, mas que se
trata apenas de uma forma sígnica a serviço da comunicação. Com efeito, estamos
diante de um outro modo de comunicar ou de transfigurar a realidade em diversa
escala imaginativa.
Em outro momento, diante da aparente
impenetrabilidade de uma peça visual sem o menor indício de informação verbal,
o entrevistador pede para que Joan Brossa “abra a porta do poema” de modo a
introduzir o leitor nesse universo desconhecido, ao que Brossa rapidamente
responde: “mas a porta está sempre aberta”.
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