Cair de costas reunião comemorando quase 30 anos de atividade poética
Ronaldo Machado
Uma
poesia de ângulos precisos, mas escrita com a aspereza do carvão. Seria esta
uma boa imagem para descrever sinteticamente minha leitura da poética que
Ronald Augusto enfeixa neste substancial conjunto de poemas intitulado Cair de costas, cujo arco temporal cobre
quase trinta anos de sua produção como poeta. Mas a síntese só seria boa se a
imagem não fosse, por um lado, tão simplória frente à sofisticação da sua
linguagem e, por outro lado, tão precária e instável frente à vertiginosidade
da sua razão poética.
De
fato, agudo em sua racionalidade e áspero em seu ethos comunicativo, Ronald elabora uma poesia paradoxalmente
concreta e visceral, lúcida e ao mesmo tempo apaixonada, que negaceia o leitor
com a torpeza da sua sintaxe desafiadora das significações e com as exigências
do extraverbal dos seus poemas visuais, signos mais incitantes ainda pelo que designam racionalmente e pelo que
estimulam emocionalmente.
Nesses
duplos é que a força volitiva da linguagem do poeta se funda. Tão singular e
segura em sua expressividade, erige uma subjetividade elegantemente irônica
que, ao reverter-se na objetividade crítica do poema, confronta e contradiz as
ordinárias convenções sociais e suas derivadas literárias, relativizando todas
as filiações a que se queira vincular tal escrita criativa.
Longe
de ser um mero apanhando de poemas, ou uma vetusta antologia comemorativa do
cinquentenário de nascimento do poeta, Cair
de costas imprime-se como livro inédito e extemporâneo por sua extravagante
radicalidade inventiva, não lhe faltando o viço, a alegria e a expectativa de
uma estreia.
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