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cinco questões



Respostas ao amigo Roberto Amaral, em


Ler?

Duas coisas sobre essa questão: (1) ler é mais importante do que escrever; e (2) reler, do ponto de vista do escritor, é mais importante do que ler. Borges, Jorge Luis, é o grande exemplo dessa meia tese, isso porque o dom da cegueira progressiva contribuiu para que ele se dedicasse mais à releitura, espécie de rememoração, do que à leitura (que supõe o agora e o cumulativo). Se o prazer da leitura se extinguirá restando fora do alcance da vista, então melhor reter na memória imaginativa, por via da releitura, o que foi feito de melhor.

Escrever?

Subproduto da releitura. Repetir os mestres para aprender.

Ser lido?

Efetivar esse singular ato da comunicação poética. Reconhecer a vontade ou o desejo de linguagem do leitor. Admitir que as interpretações resultantes desse desejo são infinitamente mais importantes do que as que o escritor talvez tenha idealizado para o seu  próprio texto.

Criticar?

Fazer inimigos. Dar prosseguimento à tradição, mas de maneira a colaborar com sua renovação.

Ser criticado?


É como ser lido, a mesma coisa; trata-se de um modo mais focado de ler. Mas, no sentido de receber uma crítica desfavorável, devo dizer que ainda não sei o que significa isto. Não estou sendo arrogante. Até agora, quando alguém me critica, isso tem a ver com minha atividade crítica; os autores reagem defensivamente e com certa revolta, como se eu fosse um traidor da irmandade. Fazer crítica apontando problemas se limita, hoje em dia, com o gesto reativo do sujeito que ficou com o orgulho ferido. Esse escritor medíocre faz beicinho e sai da sala para chamar a atenção.

Comments

Oi, Ronald! Será que o que eu faço é poesia ou é "poesia coisa nenhuma"? Sê tão duro quanto eu mereça! Admiro-te. Abraço!

-> http://bionicao.blogspot.com
Boa tarde, Ronald! Embora, em tua resposta ao meu pretensioso comentário, tu tenhas dito que fora um prazer me conhecer, surrupio-te tal prazer para dizer que o prazer foi todinho meu! Confesso-te que a tua simpática resposta surpreendeu-me. Muito obrigado pela valiosíssima reprimenda sobre o abuso dos metapoemas. Recebi-a muito bem e, ao reler meus poemas, confirmei o que tu disseste: estou escrevendo demasiadamente acerca do ofício do poeta e pouco sobre o “entorno” do poeta. Valiosíssima dica, Ronald! Vou me policiar de agora em diante. Tão logo eu possa, vou adquirir o teu “Cair de Costas”, cuja capa já vem me instigando há dias. Grande abraço, Mestre!

P. S.: “pessoano” içou-me às nuvens.

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