Respostas
ao amigo Roberto Amaral, em
Ler?
Duas coisas sobre essa questão: (1) ler é mais importante do
que escrever; e (2) reler, do ponto de vista do escritor, é mais importante do
que ler. Borges, Jorge Luis, é o grande exemplo dessa meia tese, isso porque o
dom da cegueira progressiva contribuiu para que ele se dedicasse mais à
releitura, espécie de rememoração, do que à leitura (que supõe o agora e o
cumulativo). Se o prazer da leitura se extinguirá restando fora do alcance da
vista, então melhor reter na memória imaginativa, por via da releitura, o que
foi feito de melhor.
Escrever?
Subproduto da releitura. Repetir os mestres para aprender.
Ser
lido?
Efetivar esse singular ato da comunicação poética. Reconhecer
a vontade ou o desejo de linguagem do leitor. Admitir que as interpretações
resultantes desse desejo são infinitamente mais importantes do que as que o
escritor talvez tenha idealizado para o seu
próprio texto.
Criticar?
Fazer inimigos. Dar prosseguimento à tradição, mas de maneira
a colaborar com sua renovação.
Ser
criticado?
É como ser lido, a mesma coisa; trata-se de um modo mais
focado de ler. Mas, no sentido de receber uma crítica desfavorável, devo dizer
que ainda não sei o que significa isto. Não estou sendo arrogante. Até agora,
quando alguém me critica, isso tem a ver com minha atividade crítica; os
autores reagem defensivamente e com certa revolta, como se eu fosse um traidor
da irmandade. Fazer crítica apontando problemas se limita, hoje em dia, com o
gesto reativo do sujeito que ficou com o orgulho ferido. Esse escritor medíocre
faz beicinho e sai da sala para chamar a atenção.
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P. S.: “pessoano” içou-me às nuvens.