assim como aconteceu no episódio de racismo contra o goleiro aranha onde,
a partir de um certo momento, os que se posicionaram a favor da aplicação da
lei punindo os ofensores, paradoxalmente, começaram a ser demonizados porque
não perdoaram a torcedora racista, agora, então, começa a se erguer uma onda de
apoio ao seriado "sexo e as negas" seguindo quase os mesmos moldes.
em troca de
uma exposição (ou de uma visibilidade) ainda que não a ideal da imagem do negro
para uma audiência mais ampla e graças à capacidade de barganha e de sedução
(ou de chantagem) da emissora que patrocina a série, muitos já começam a ver
com bons olhos as peripécias das novas mulatas do chacrinha-falabella. o
pragmantismo da cultura das celebridades aceita tudo, essa propriedade já não é
mais exclusiva do papel.
assim, negros
e brancos que preferem não transigir com a suposta vantagem que teria sido
alcançada pelos ou para os negros com a série (na verdade se trata de uma
exceção que confirma a regra), agora são tachados de terroristas ou de
traidores da esperança de atores negros em busca do seu espaço; infelizmente o
espaço de sempre, onde, a rigor, não há diversidade nenhuma, pois a figura do
negro que vemos na série é a mesma, ainda mais corpórea que espiritual, mais
jeito de corpo que pensamento, um negro ainda reativo, maleável, às vezes em
confronto, mas dentro dos limites do tolerável, enfim, a diferença é que isso
nos é revelado, agora, em alta definição.
não tenho nada contra o corpo ou a
sensualidade, os lábios carnudos, a bunda, mas por que nossa incrível
diversidade espiritual e física não pode ser representada para além desse
limite de negros de dentes brancos e compleição saudável ou parruda? apesar de
nossa carne ser a mais barata do mercado, parece ser a mais desejada. devoramo-nos
a nós mesmos sendo as iscas com que o racismo lucra nos oferecendo em
espetáculo.
e como sempre
acontece, nestas horas, por um lado, o agressor diz que tem amigos negros e,
por outro lado, o racismo entranhado na interlocução dos afetos no teatro
social encontra negros que servem de testas de ferro desse sistema negacionista
e da boa vontade interesseira da branquitude.
na voz de
dona veralinda menezzes, mãe da atriz sheron menezzes, está a síntese desse
quadro deprimente:
"As
lideranças negras que me desculpem, mas o Ibope é quem vai dizer se esse
seriado tem ou não aprovação."
para que
pensar? o ibope fará ou já faz isso por nós.
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