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mais além das personae



dois livros que consegui não faz muito tempo
e os dois representam aparentemente
tudo o que menos me agrada
um é de haikais (mas não), 29 de marcos messerschmidt
o outro é de sonetos (mas não), quarenta e uns sonetos catados de alex simões

mas para a minha grata satisfação
esses poetas e seus livros não cumprem o que prometem
ou melhor cumprem o essencial:
além ou aquém de um circunstancial
reconhecimento – que felizmente parece não lhes interessar –
de um como persona-haijin
e de outro como persona-sonetista
o que vale mesmo é que são bons poetas
e experimentando as valências expressivas dessas
formas da tradição
e na medida do possível acrescentando
algo de singular a elas

quarenta e uns sonetos catados de alex simões:
desde o seu surgimento até agora
as tramas métricas e rímicas do soneto continuam quase as mesmas
o que muda e mudará sempre é o tom e a sintaxe
alex simões com esse seu conjunto de contrassonetos
não perde de vista as conflitantes perspectivas
de valor por meio das quais
debatemos  a eficácia estética do soneto
dentro de um processo histórico-estilístico
marcado às vezes pelo resgate outras vezes pela
ruptura com os modelos consagrados

29 de marcos messerschmidt:
o poeta sabe das vantagens e das interdições
inerentes a essa condição indecidível do haikai “fora-do-lugar”
essa coisa transculturada
o haikai é uma invenção
no sentido em que deveria inexistir
ou parecer impossível e impensável
em português ou em qualquer
outro idioma que não o japonês
como invenção o que importa então
é a margem de liberdade com que trabalha
o poeta na reacomodação
dos seus dados visando a
criação original

29 de marcos messerschmidt
quarenta e uns sonetos catados de alex simões
bons livros de poemas (não obstante se haikais
se sonetos)
bons poetas

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