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o calafate cristiano moreira, poeta



o calafate o que faz
veda os vãos as fissuras entre as tábuas
das naus à força de estopa e algodão com alcatrão

o calafate míope metáfora
do poeta háptico que palpa num afazer de afasias
seus breves e compactos instrumentos
seu bateau ivre à deriva
a tarefa arquetípica de emprestar sentido
ao nomeado

mas a mareada náusea o impreciso feito preciso
“os rostos no lodo da margem”
borram por sua vez o desenho do poeta cala-
fate fátuo ficto
(a música do cais fungível e indeterminada
o silêncio mais essa palha espessa)
o marulho da memória
o mar-rio grande bulindo com as duas
cidades coxas de mulher oleosa

baita livro-trapiche de poemas
(em contraponto com fotogramas de prosa)
do cristiano moreira
lido agora depois de 5 anos
quieto
entre outros volumes

                         

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