Armindo Trevisan, com Adega imaginária, seu mais recente
conjunto de poemas, segue mantendo retesado o arco da lira. Por essa razão sua
poesia permanece contemporânea, isto é, ela não tem essa propriedade tão só
porque está sendo feita agora, não é acidentalmente contemporânea, mas, antes,
essencialmente contemporânea, porque Armindo Trevisan atualiza e redimensiona
no presente as tradições, as formas e os temas caros aos poetas de sua geração.
Ao mesmo tempo oferece à
poesia mais jovem um tom filosofal e especulativo, coisa que se relaciona
intrinsecamente à sua condição de lúcido homem velho, de poeta velho, mas que,
ao modo anacreôntico, envelhece e continua amando. Trevisan aprendeu que o
poema quer ser amado, mais do que decodificado. Adega imaginária evoca reflexões estéticas e metafísicas, sem
deixar de lado o amor dos cinco sentidos. E tudo isso por meio de uma linguagem
que depura a metáfora (recurso importante para Trevisan) a seus elementos
essenciais. Armindo Trevisan é aquele tipo de poeta cujo estilo ou música
verbal é capaz de me fazer simpatizar com assuntos que a princípio não seriam
do meu interesse.
Dois poemas de Adega imaginária
CÁQUIS
Da janela do meu
apartamento
observo o pátio da casa
ao lado,
onde os cáquis
principiaram a amadurecer.
Estão
em fase de maturação.
De longe, apalpo-os:
carnudos, rijos,
como seios de
adolescentes
que o leite não
visitou.
SOBRE A LEITURA
Somente lês um livro,
em toda a sua extensão
e profundidade,
quando és capaz
de te opores a ele.
Mais do que isso:
quando obrigas o autor
a aparecer nu
diante de ti.
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