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Retendre la corde vocale: uma antologia

No dia 14 de outubro de 2016, em Grenoble (comuna francesa e capital do departamento de Isère, na região do Ródano-Alpes), será lançada a antologia Retendre la corde vocale: anthologie de poésie brésilienne vivante.  A obra é organizada e traduzida por Patrick Quillier, poeta e ensaísta.  Quillier, além de Professor da Faculdade de Letras da Universidade de Nice, é organizador e um dos tradutores de Œuvres poétiques (2001) de Fernando Pessoa lançada na coleção La Pléiade da editora Gallimard.

Editada e publicada pela Maison de la Poésie Rhône-Alpes, em Grenoble, a antologia Retendre la corde vocale: anthologie de poésie brésilienne vivante reúne uma série de poetas contemporâneos (nascidos entre os anos de 1930 e 1980) escolhidos por Patrick Quillier, além dos nomes de Ferreira Gullar, Augusto de Campos e Sebastião Nunes, estão, entre outros mais jovens, os poetas Leo Gonçalves, Josely Vianna Baptista, Régis Bonvicino, Edimilson de Almeida Pereira e Ricardo Aleixo.

À guisa de degustação, antecipo aos leitores essas traduções de Patrick Quillier para alguns dos meus poemas (uma sequência sem título). Bom proveito.


*    *   *


Remuement d’arbres dans le jardin
voisin.
             Le soir râtelle des branches,
mais c’est comme s’il rendait service
en invitant le vent à les empaqueter.
Il assèche sa propre essence dans ces enchevêtrements
qu’il ne rompt pas malgré tant d’efforts.
Il redouble le nœud des frondaisons en nuit anticipée,
cette ombre qui émerge du sol humide.
Fraîcheur à l’odeur de mort, sel.
                                                           Ferments,
froidure d’être mollusque et escarre
dans la magnificence de cet arrache-tronc,
dont les racines griffent le vide profond.

*

Même au milieu de la nuit obscure,
où s’éteint tout ce à quoi je me tiens,
ne se tait pas le simulacre du miroir.
Dans le salon vide,
enclos dans son cadre ovale,
on voit très bien, intermittent,
le brasier d’une constellation,
si reculée qu’elle ne sait pas distinguer
les fléaux et les délices des hommes.

*

Dans le soulagement de la cuisine blanche
(silence qui ne s’écroule pas)
grâce à ce peu d’inox qu’elle contient,

pendant que le notebook,
dans une sorte de crépitement minuscule
ronchonne pendant qu’on le débranche,

le sommeil s’introduit et paralyse (métaphore à la ademir da guia
d’après la fine lame du pernambouc) et
paralyse mes muscles.


*  *  *


Menear de árvores no quintal
vizinho. 
               A tarde rastela ramos,
mas é como se fizera um favor
convidando o vento a embaralhá-los.
Engelha o próprio engenho nesses galhos
que não quebra apesar de tanto esforço.
Dobra o nó da ramagem em noite prévia,
essa sombra que emerge do chão úmido.
Frescor que sabe à morte, sal. 
                                                       Fermentos,
friúme de ser craca e escara
na formosura desse arranca-tronco,
cujas raízes unham o vão profundo.


*

Sequer em meio à noite escura,
onde se apaga tudo a que me apego,
se cala o simulacro do espelho.
No salão vazio,
cerrado na moldura ovalada,
vislumbra-se, intermitente,
o braseiro de uma constelação,
remota a ponto de não discernir
os flagelos e as delícias dos homens.

*

No alívio da cozinha branca
(silêncio que não desaba),
graças ao pouco inox que contém,

enquanto o notebook,
numa espécie de crepitar minúsculo
resmunga durante o desligamento,

o sono se entranha e paralisa (metáfora-ademirdaguia
segundo a lâmina pernambucana) e
paralisa meus músculos.



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