Paulo de Toledo entrevista Ronald Augusto
Para que serve a poesia?
Esta pergunta me traz à memória o poema “O porto sepulto”, de Giuseppe Ungaretti, do qual destaco o seguinte trecho: “Di questa poesia / mi resta / quel nulla / d'inesauribile segreto”, que me permito tresler assim: poesia, essa coisa nenhuma de inexaurível segredo. A poesia não serve para coisa alguma, nem se presta à transmissão de mensagens. Seu fazer parece querer ficar rente àquelas zonas mais obscuras e imprecisas da experiência. Seu movimento sígnico, em realidade, busca não dissimular, mas sim problematizar, um aspecto crítico da linguagem, ao qual não se dá a devida atenção, a saber: esta crença infundada de que só a linguagem articulada e seu corolário, uma objetividade desinteressada e quase transparente, é capaz de iluminar e decodificar o íntimo dos seres e das coisas. Na prática, o resultado é bem outro. Tal pretensão de desvelamento acaba, ao contrário, projetando sombras de sentido e mal entendidos em torno à totalidade dos objetos; mais do que “signo tradutor por excelência”, a palavra como legenda se depara o tempo todo com as suas margens e sua arbitrariedade. Assim, mais do que esclarecido, explicado, o real se volta múltiplo, errático quando mediado tão só pelo signo lingual todo-poderoso.
Paulo de Toledo - Poesia nasce para acabar em livro?
Há nesta pergunta o eco de uma “máxima” mallarmeana que eu gosto de interpretar assim: livro aparece como metáfora de forma ou signo. Vale dizer, não existe poesia fora dos limites do poema. Poesia tem que se resolver numa forma, num ícone. A poesia nasce para acabar-começar com/o desejo de linguagem do leitor.
(para conferir a íntegra desta entrevista e poemas, visite: http://www.revistabula.com/coluna9-2006-05-22.php)
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