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um poema cheio de dedos



que deus em sua teia viúva a tenha
aquela época clara em que
cabra seco carne branca de peixe convertia a duras penas
etíope em mussum músculos música
tirando proveito da cena circundante
enquanto revirava algo como o monturo da
metáfora o kitsch da função poética da linguagem
e para não entrar em atrito com o que regrava a letra
homens de letras rascunhavam seus
poemas nodosos reservando em alguns
instantes dessas obras abertas (alavancas
armadas da impureza rarefeita)
um lugar legal ao corso negro
uma fossa de onde negros após entrados
saíam asperamente apetrechados
assim sendo eu por exemplo concordante
com o que à época vigia
viria a público como
aquele negro urubu de fraque
uma negra cabelo adelgaçado a fogo
(apara do estupro escravagista) por sua vez
sem réstia de dúvida consistiria um destaque
libação libidinosa a escorrer sobre
toda a audiência ovacionando sem pudores
de pé a entrada da mulata carnuda adoração odorante
mas aos poucos outros vieram erupções
em solo estéril
los porcinos y tarados protectores de las letras
(um cubano assim os apedrejava)
representavam os estudos culturais e
o movimento geral das elites desalienadas
nossa poesia então foi nomeada emergente
eu de minha parte posso testemunhar que
conheci apenas dois poetas emergentes:
arnaut e sordello entretanto
nenhum deles é negro e ambos
para todo o sempre agitarão suas
almas opacas na montanha do purgatório
mas estes episódios remotos sub
produtos de língua de literatura
e de época enfim mortas
já não nos sacode o interesse
tudo pode ser re-sumido agora
num singelo verbete
que a mim francamente não me pesa
ficar sem redigi-lo

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