o espaço cenográfico da livorno de visconti (são petersburgo para dostoiévski), pontes, canais, prédios carcomidos, ruínas onde brincam infantes maltrapilhos, ruas de passeio, boates, etc, tudo isso que indica a exterioridade, o lugar, se desenha a partir de um efeito de metonimização e de exigüidade; estamos rente à gramática do espaço dramático; um drama romântico é encenado num palco cheio de camadas e dobras, profundezas contíguas (os casais dançando na cena da boate, entre cômica e carnal: uma superposição de rostos colados que surgem e desaparecem na sombra feita de uma luminosidade leitosa), rasgos por onde vislumbramos outros corpos cujas existências se movimentam em contra-plano; os espaços da vida fora dos aposentos é estreito, principalmente se os compararmos aos da casa de natália, aí parece haver mais amplitude. a personagem de mastroianni vive numa pensão apertada, parece não ter intimidade, a senhoria entra no quarto sem bater. penso nessas coisas; natália alimenta um sonho generoso, mesmo em sua melancolia algo infantil vê uma perspectiva; talvez por este motivo os interiores de sua moradia (metáfora da intimidade emocional) sejam maiores do que os da personagem interpretada por mastroianni; também ao contrário de natália, ele não tem uma história para contar (não tem palavras para escrever uma carta); na boate ele tenta juntar os cacos de coisas da sua infância, mas a música, os casais dançando, o impedem de prosseguir na narrativa insolvente; penso nessas imagens que falam lateralmente; há pouco tempo comprei o livro de fiódor dostoiévski, e ele começa assim: “Era uma noite maravilhosa, uma noite tal como só é possível quando somos jovens, caro leitor”. esse início é machadiano. também vou gostar de ler.
Amaralina Dinka, minha filha caçula de 11 anos, escreveu seu primeiro poema e me pediu para publicá-lo aqui no blog. Ela quer receber críticas e comentários. A MOCINHA FELIZ Eu acordei bem sapeca Parecendo uma peteca Fui direto pra cozinha Tomar meu café na caneca Na escola eu aprendi A multiplicar No recreio fui brincar Cheguei em casa Subi a escada Escorreguei, Caí no chão Mas não chorei Na hora de jantar Tomei meu chá Na minha janela Vi uma mulher tagarela.
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