o espaço cenográfico da livorno de visconti (são petersburgo para dostoiévski), pontes, canais, prédios carcomidos, ruínas onde brincam infantes maltrapilhos, ruas de passeio, boates, etc, tudo isso que indica a exterioridade, o lugar, se desenha a partir de um efeito de metonimização e de exigüidade; estamos rente à gramática do espaço dramático; um drama romântico é encenado num palco cheio de camadas e dobras, profundezas contíguas (os casais dançando na cena da boate, entre cômica e carnal: uma superposição de rostos colados que surgem e desaparecem na sombra feita de uma luminosidade leitosa), rasgos por onde vislumbramos outros corpos cujas existências se movimentam em contra-plano; os espaços da vida fora dos aposentos é estreito, principalmente se os compararmos aos da casa de natália, aí parece haver mais amplitude. a personagem de mastroianni vive numa pensão apertada, parece não ter intimidade, a senhoria entra no quarto sem bater. penso nessas coisas; natália alimenta um sonho generoso, mesmo em sua melancolia algo infantil vê uma perspectiva; talvez por este motivo os interiores de sua moradia (metáfora da intimidade emocional) sejam maiores do que os da personagem interpretada por mastroianni; também ao contrário de natália, ele não tem uma história para contar (não tem palavras para escrever uma carta); na boate ele tenta juntar os cacos de coisas da sua infância, mas a música, os casais dançando, o impedem de prosseguir na narrativa insolvente; penso nessas imagens que falam lateralmente; há pouco tempo comprei o livro de fiódor dostoiévski, e ele começa assim: “Era uma noite maravilhosa, uma noite tal como só é possível quando somos jovens, caro leitor”. esse início é machadiano. também vou gostar de ler.
por uma literatura de várzea por uma literatura lavada de notas de pé de página por uma literatura sem seguidores por uma literatura não endogâmica por uma literatura infiel à realidade por uma literatura impertinente por uma literatura não poética por uma literatura que não capitule à noção de "obra", acúmulo de feitos por uma literatura que não seja o corolário de oficinas de escrita criativa por uma literatura que não sucumba à chapa de que o menos é mais por uma literatura desobediente ao mercado livreiro-editorial por uma literatura imprudente por uma literatura sem cacoetes, isto é, o oposto do que faz mia couto por uma literatura que não se confunda com o ativismo de facebook por uma literatura que não seja imprescindível por uma literatura sem literatos por uma literatura, como disse uma vez lezama, livre dos tarados protetores das letras por uma literatura sem mediadores de leitura por uma literatura não inspirada em filósofos fr...
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