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Showing posts from August, 2008

um parágrafo irritante

giacomo joyce, r. a. A invenção da escrita cursiva, a par da derrocada do mundo heróico, sepultou a poesia cantada. O espaço público, solidário e consensual, reflui para a imprecisão da subjetividade lírica. O leitor mudo encena a sua tragédia no quadrículo resumido da página manuscrita, ou impressa. O sermão dá passagem à confissão. Um parêntese, ou um breve desvio: para usar uma metáfora resgatada ao campo da música, poderíamos dizer que a voz empostada se converte no canto à boca pequena da bossa nova; fecho-o. Mallarmé, no século19, já diz que tudo, mais cedo ou mais tarde, acaba num livro. Em literatura, toda teatralidade se rarefaz. O seu lado avesso esconde nada, e essa formulação também poderia servir de imagem ao poema como escritura-figura que se imprime no papel.

ronaldo machado, excertos

Mais do que lance bem urdido de manipulação de linguagem, a palavra-montagem “solecidades”, que serve de título ao livro de estréia de Ronaldo Machado , aponta para a estrutural relação desse poema em parcelas do nosso século, com as falhas - no sentido de “fissuras” -, com os fragmentos e com as errâncias constitutivas das controversas personae poéticas do alto modernismo, localizadas no já recuado século passado. O poeta faz o seu périplo através desses espaços de dissonância e sentido (ou de sua ausência), e sem desligar os pulsos da memória pessoal, mas num registro menos épico, focalizando a atenção nos arrabaldes e em suas “indecifráveis histórias” com um olhar lírico-imagético a percorrer estes “restos da cidade” transliterados a partir dos despojos discursivos de seus precursores. Entretanto, o leitor atento perceberá que Ronaldo lida menos com os topos do que com os tropos : “Na pedra/ palpita a pele abstrata da palavra:/ corpo estendido no vazio” (pág. 16). Em Solecidades ,

o malungo co-editor

PALAVRARIA – LIVRARIA-CAFÉ CONVIDA PARA MAFUÁ DE MALUNGO: Bate-papo entre Ronald Augusto e Ronaldo Machado 13 de agosto de 2008, quarta-feira, das 19h às 21h Na Palavraria – Livraria-Café Ronaldo Machado nasceu em Porto Alegre a 13 de agosto de 1971. Poeta, é autor de Solecidades (Éblis, 2007). Co-editor da Editora Éblis. Mestre em Teoria Literária (Unicamp/2000), tem artigos de crítica e teoria literária publicados em revistas especializadas. Assina o blog www.solecismos.zip.net O projeto Mafuá de Malungo, concebido por Ronald Augusto, prevê um encontro por mês até o final desse ano, ocasião em que o poeta convidado conversa com Ronald a respeito de suas obras. Palavraria - Livraria-CaféRua Vasco da Gama, 165 - Bom Fim90420-111 - Porto Alegre Telefone 051 32684260 palavraria@palavraria.com.br

questões de linguagem

www.verbavisual.blogspot.com Segundo Wittgenstein, os “problemas filosóficos” são produzidos quando o que deve ser silenciado termina por ser dito. O que pode ser expresso com clareza, sem erros (ou riscos) de linguagem (afasias) não seria, portanto, poesia. Por outro lado, diz-se com uma certa insistência - o que, aliás, deveria nos conduzir a uma suspeição ou resguardo com relação ao aspecto avassalador da afirmativa que segue - que a poesia “diz o indizível”. Mas, se Wittgenstein tem razão quando afirma que “acerca daquilo de que não se pode falar, deve-se silenciar”, como emprestar credibilidade ao supostamente indizível que a linguagem poética materializaria no lance de sua invenção? Efetivamente, a poesia diz o indizível? E como, em caso afirmativo, ela o diz?