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Showing posts from 2017

rubedo & rebojo

praza a exu que revém escuro ígneo jônico enxurro de excogitares debuxados em rubedo rebojo

simplício

movimento é princípio de physis. os céus estão sujeitos à geração e à corrupção. para cada um dos possíveis movimentos simples a conversiva, mover-se segundo uma premissa que não é tolerada. o fogo a terra onde se acoita o éter indefensável. os três movimentos simples entalam o vale. a estrada e as pedras de sal a salmoura nos pés esfolados de simplício simplício e a circunferência. os corpos os corpos os corpos os corpos os corpos no capítulo dois do livro um. o que pode ser completado é não perfeito

wwkkk

de um lado nós negros e (vá lá) alguns brancos  mandando o wwkkk tomarnocu e, de outro,  jornalistas brancos de esquerda  denunciando o linchamento de que é vítima  esse um seu igual de merda  que buzinou o racismo  dele e de muitos  em falsa surdina.

subir ao mural

à luz fria da última hora da tarde os talheres à mesa ou na cozinha   raspam a louça branca cujas peças batem a toada inconclusa no balcão de ordinário mármore * acesse o link  https://editoracaseira.com/subiraomural/

a bordo

não queda um segundo sem que não soe um alarme cada equipamento dispara dois três tipos de em representação ao desempenho dos infantes o esforço de vida o prazer o cansaço mirados em linhas e cifras numéricas verdes azuis amarelas brancas abstrações eletrônicas de choros resmungos vagidos em ciranda e às vezes o vermelho piscante em ritmo ternário o interrupto sono a bordo de noites gigantes girando para ir ao café e bebê-lo a escada de incêndio de sorte a evitar os demorados e vastos elevadores uma ligeira interpolação de terror enquanto subo ou desço pelas escadas sem esbarrar com ninguém

alguém virá

Diversidade e pertencimento culturais

Diversidade e pertencimento culturais Ronald Augusto [1] Diversidade cultural implica um dilema, a saber: é preciso reconhecer tanto a minha particularidade, quanto a particularidade do outro, mas ambas como instâncias aproximativas do universal. Isto é, graças às particularidades é que podemos conceber o universal como uma categoria em movimento. O conceito de Homem por meio do qual aceitamos, a princípio, que o outro pode ser considerado como “meu semelhante, meu irmão”, só é possível porque a imagem intuitiva que fazemos de Homem e, por outro lado, de nós mesmos, se constitui de uma infinidade de tipos humanos particulares que, no entanto, apresentam muitos traços em comum. Esses traços comuns é que nos permitem dizer que Malcom X, por exemplo, além de suas singularidades, é um homem como qualquer outro. O conflito cultural toma o lugar da diversidade cultural quando pretendemos universalizar nossa particularidade, isto é, quando lutamos apenas pelo nosso reconhecimento

clicheria

acho engraçado  o cacoete de muito poeta: a palavra final do antepenúltimo verso, de ordinário, rima com a do último

pela cobertura

não gosto da capa não me agrada o título mas é um desenho coisa de artista não precisa ser um retrato fiel o ilustrador tem a sua visão e liberdade para recriar etc só que a boca clusa feito anastácia os ferros na fala o olhar derreado tudo tão reiterado ainda a mesmidade sob o tardio reconhecimento a curiosidade sobre e como deve ser uma vida de negro

um rap só e mais nenhum

nem de longe eu entendo o que me vem à cabeça o silêncio sem ideia é alta recompensa a minha tara a minha manha é sempre comburente eu não lavo minhas mãos nem com água ardente não me venha com deus-me-acuda se o poema aperta a palavra tem dois lados turbulenta moeda gira e rola pomba-gira e dá pra todo mundo felizberto joão-gostoso diná raimundo todos eles dão de mão em poesia pouca essa gente cai por cima e vai dormir de touca desenrolo minha língua pra lamber o pandeiro meu dicionário brasil é num estranho brasileiro meu discurso não tem cabo nem sequer validade atravessa rio na cheia o centro da cidade trova a traça muda o modo do som tagarela escurece logo as coisas antes da novela quer dizer e diz que nem sempre atinge o alvo mas entende a balaca-cadillac do olavo que verbera por respeito no meio da praça onde putas e columbas dão o ar da sua graça onde a bíblia encardida berra ultima verba onde o olho encara o sol e mergulha na

conversa com um despachante

conversa com um despachante não vale mais reiterar que o brasil é um país jovem que nossa democracia ainda se apresenta frágil porque nossa história é recente e periférica e infante e o que mais você quiser enfiar no escopo comparada às velhas democracias a nossa seria adolescente (o discurso dos patriotas grisalhos) não vale mais insistir nessa coisa, infanção o brasil é um país ultrapassado envelheceu a contrapelo dessa juventude de fachada festejada como um traço essencial do gênio da nação o brasil não envelheceu agora com o golpe, não sua velhice chegou já há algum tempo e chegou arrastando os predicados de sempre levando à esquerda e à direita a resignação a retórica o acordo a negociação a teimosia a autoridade a estabilidade o medo o frio a formalidade o controle o brasil envelheceu socialmente envelheceu politicamente o velho golpista e seu governo formam a imagem perfeita dessa condição l

indo para diamantina, 2016

entre montanhas o jequitinhonha serpeia exsurge às vezes a areia branca do leito depois o perpétuo eucalipto enquanto um quietar ventoso embrulha a intervalos o barulho de carros e caminhões ladeados pelo barro carmim que sobe as encostas

jazz bruto: o cálculo do acaso

                                          [ https://www.galeria33.com/karl  ] jazz bruto: o cálculo do acaso as naves pictóricas de fernando karl nos facultam o mais íntimo maroceano decupado no transe de plano e contra-plano exigido ao écran : a determinação para o fortuito o olho sempiterno que se deixa mirar por entre as lâminas da espessura o desenho com intenção alfabética mais negaceio que promessa ou melhor o desenho musical ou ainda a metáfora obsessiva da música calada que gosto de vislumbrar na pintura do poeta fernando karl na poesia do pintor fernando karl os lances fictos os fastos brutos de sua pintura (clave de leitura) jazzística tempestade de um poeta diserto

um, dois, três poemas

mais que tropeço sanhudo a onda rompe o próprio centro para produzir esse acorde áspero e forte bem acima sem que se dê por isso jungidas ao azul recurvo nuvens num turbilhão talhado   surdo 03 de fevereiro de 2012 o marido velho à sombra fulva desses sentimentos de amor a testa — fruto ácido e fungível que oscila — se inclina forçado em suplícios que o fatigam medita a música calada e irascível de uma meia confissão que lhe sai ao preço de ficta vulgaridade 04 de fevereiro de 2012 pânicas umbelas de beira- praia (três verões mais tarde) embicadas contra o barbatanear do vento uma pálpebra de luz ( pano ligeiro) dessigila a realidade mais à mão                                      05 de fevereiro de 2012

o barato e o bará

ao debate

“me convidam para um debate por causa da minha literatura ou por que sou negro?” quando convidam um escritor não-negro para participar de uma mesa, aparentemente é por causa da sua literatura; porém ele é convidado justamente por ser não-negro, porque ele é um igual, porque não é considerado um corpo estranho, porque os envolvidos querem se reconhecer no sujeito que vai palestrar para eles; talvez tudo aconteça desse jeito, isto é, sem que ninguém desse círculo de mesmidades pense a respeito, por simples e cruel inércia; talvez. quando convidam um escritor negro para um debate é por causa de sua literatura e porque ele é um sujeito que combate o racismo onde quer que se apresente. quando convidam um escritor negro para compor uma mesa apenas por causa de sua obra, é porque nem ele nem a curadoria sabem que se trata de um negro.

a caminho

1 à custa de uma ideia rebaixada não logrei mais do que este entardecer e esta aldeia de áscuas sujas à exaustão diante de suas portas – sem número determinado, seguramente mais do que duas, com o obséquio de não ultrapassar uma dezena – uma luzerna feroz sorriso bramoso no quadrículo do guichê cuspo de barítono trifauce que esbarra o andar de quem vem deparar sem aviso do lado de lá do farpado a visão da piranha que nos há parido sua sombra gaiata desprovida de sombra ainda não é o mais duro ou coroável matar saudade e soledade abraçando-se três vezes (reiteração) a todo o seu vazio de morta ainda não é o que mais pode o hades esta aldeia que se presta a tigela escura ideografia onde a animalha ínfera vem beber do meu remorso infuso no caldo da indesejada deia das gentes 2 ao apartar a cunha da árvore o verde debaixo das unhas intérprete do rugitar de oito sílabas no côvado de lado da velha cantica inci

nem mercado editorial nem redes sociais

A afirmação segundo a qual a literatura se esgotou ou se resolve, hoje, nessa trama de reconhecimentos recíprocos do facebook, me parece uma generalização indevida; trata-se de afirmação recorrente (o genérico da aposta em um quadro de falência de algo) que agora dá as caras mais uma vez e, como de hábito, costumizada aqui e ali. Felizmente, a literatura é coisa muito mais complexa. Sou da opinião, inclusive, de que ela não se confunde nem com o mercado editorial, nem com as redes sociais. Podemos estabelecer relações entre essas realidades, podemos até mesmo sucumbir circunstancialmente diante de certo estado de coisas, mas tanto o mercado, como o facebook, são segundos em relação à literatura. Isto é, devem ou deveriam ser coadjuvantes no processo. Na década de 1950 os poetas concretos (ou ao menos três deles) deram por encerrado “o ciclo histórico do verso”. Recentemente alguém decretou o fim da história. Alguns artistas e/ou fast thinkers têm essa mania de tentar projetar s