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antipoema para a literatura branca brasileira

  por uma literatura de várzea por uma literatura lavada de notas de pé de página por uma literatura sem seguidores por uma literatura não endogâmica por uma literatura infiel à realidade por uma literatura impertinente por uma literatura não poética por uma literatura que não capitule à noção de "obra", acúmulo de feitos por uma literatura que não seja o corolário de oficinas de escrita criativa por uma literatura que não sucumba à chapa de que o menos é mais por uma literatura desobediente ao mercado livreiro-editorial por uma literatura imprudente por uma literatura sem cacoetes, isto é, o oposto do que faz mia couto por uma literatura que não se confunda com o ativismo de facebook por uma literatura que não seja imprescindível por uma literatura sem literatos por uma literatura, como disse uma vez lezama, livre dos tarados protetores das letras por uma literatura sem mediadores de leitura por uma literatura não inspirada em filósofos fr
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35 anos depois, poemas

[primeira redação: 1985; duas ou três alterações: 2020]   1 espelho verde não se sabe de onde parte a vontade do vento confins com os quais o vento confina   2 um paraíso entre uma ramagem e outra e uma outra e imagens que não se imaginam por isso um paraíso   3 marcolini amigo este cálix (quieto) este cálix é um breve estribrilho um confim um paraíso uma música uma náusea                                                                                                                   4 a brisa em pleno brilho vai-se sempiterno para o claro exceto que uma claridade sem margens abeira-nos da escuridão mais aguçada                                     5 copo onde a pedra da luz faísca pão solar gomo aberto vinácea e divina ipásia                                                6 quando as palavras se tornam escuras não é porque há algo de inefável nos objetos a que elas se referem há duas razões para que isso ocorra  

DECADÊNCIA DAS CONQUISTAS

DECADÊNCIA DAS CONQUISTAS estou um nó neste lugar o que é     ocasião de me ver em grande aperto e por este respeito todo o meu     pensamento e o que mais sendo sério pude entesourar de tal contingência     que por mim mesmo resolvi tentar meu exílio tem de largo e comprido     a medida de uma vida sem paz quando mudei o tempo concedeu-me     alma nova pois nela não havia mais que pastor de gado sem remanso     que fica preso à terra e à família e faz vistagrossa a outras terras     e outras borrascas para as quais as gentes de mar vão em amanhecendo     a pontos onde ninguém com sinais agora acho-me num destes pontos     e espanto o quanto posso a ponta de arrependimento que me chaga     e embrulha-me semelhante a onda tive vista de muitos desesperos      moribundos dobrando a vigilância baratas besouros e gafanhotos     monstros pensativos pontas de lanças noites que despertei alvoroçado     ouvindo portas baterem

em inglês, por favor

3 poemas de à ipásia que o espera traduzidos para o inglês folhas de louro coroavam o árduo trabalho do herói e do poeta agora temperam apenas o feijão rotineiro que consagra a vianda sempre envolvida com zelo em pano puído prefiro-as assim folhas de louro mortais colhidas pelas mãos úmidas dessa abissínia nutriz do meu desejo bay leaves crowned the hard work of hero and poet now they merely season the daily beans that consecrate the meal always wrapped with care in a cloth raggedly i prefer them that way mortal bay leaves harvested by the moist hands of this abyssinian nurturer of my desire [Tradução de C. Leonardo B. Antunes] à custa das pétalas do ventilador de teto o bafo morno da noite focinha o sono adorado de ipásia a água rápida do arroio um apanhado de carqueja o longo dia inteiro do verão at the expense of the petals of theceiling fan

a espera dos mercados

a espera dos mercados o mercado que se lanhe ao inferno com toda essa cerimônia sempre cheios de dedos com a usura uma cartilha de capa suja engordurada pelas mãos do adiposo burguês-níquel (mário de andrade) enquanto o grande líder se dobra segue o rito faz o périplo o beija-mão em vista do aceite do empresariado de rapina do especulador filho de uma égua o candidato como se se candidatara a um assento na abl governar com a anuência do mercado governar para o mercado o mercado é uma claque (em off a determinar vaias palmas e gargalhadas) governar com a legitimação de uma claque o grande líder de plantão o pai de todas as obras o mata-piolho o viável o possível para o momento diz ao mercado que não há motivo para preocupação

pronunciamentos públicos

humor e política: pronunciamentos públicos buster keaton                      entrou por uma porta quando o reclamaram, mas sua entrada era esperada por outra; pegou o microfone e o usou como um barbeador elétrico. george w. bush                         depois de uma coletiva tentou sair por uma porta que estava trancada; era a outra. e uma vez esquivou-se (boxeador de filme mudo) de um, dois sapatos arremessados contra a sua cara de pau.

ÉPITAPHE

VILLON, François n. 1431  EPITÁFIO aqui neste lugar jaz e dorme alguém que Amor fulminou com flecha, um escolar pequeno e pobre. nome: françois villon. vilão, a pecha. não teve nunca escritura de terra. doou tudo, o vulgo comenta à larga: cestos, pães, estrados, mesas. comparsas, dizei esta versalhada:  Rondeau Repouso eterno seja dado a este, Senhor, e claridade desmedida, pois em vida bolso sempre raso teve e no seu prato coisas mal cosidas. rente cortaram-lhe a barba nascente, como a um nabo que se rapa a película. repouso eterno seja dado a este. Rigor o forçou ao exílio, como se peste, e esfolou-lhe a bunda de pelica, não obstante haver dito ele, à risca: “eu apelo!”, termo de fácil exegese. repouso eterno seja dado a este. ÉPITAPHE Ci gist et dort en ce sollier, Qu’amours occist de son raillon, Ung povre petit escollier, Qui fut nommé françois villon. Oncques de terre n’ot sillon. Il donna tout, chascun le scet: Tables, t