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antipoema para a literatura branca brasileira

 




por uma literatura de várzea

por uma literatura lavada de notas de pé de página

por uma literatura sem seguidores

por uma literatura não endogâmica

por uma literatura infiel à realidade

por uma literatura impertinente

por uma literatura não poética

por uma literatura que não capitule à noção de "obra", acúmulo de feitos

por uma literatura que não seja o corolário de oficinas de escrita criativa

por uma literatura que não sucumba à chapa de que o menos é mais

por uma literatura desobediente ao mercado livreiro-editorial

por uma literatura imprudente

por uma literatura sem cacoetes, isto é, o oposto do que faz mia couto

por uma literatura que não se confunda com o ativismo de facebook

por uma literatura que não seja imprescindível

por uma literatura sem literatos

por uma literatura, como disse uma vez lezama, livre dos tarados protetores das letras

por uma literatura sem mediadores de leitura

por uma literatura não inspirada em filósofos franceses contemporâneos

por uma literatura implicante

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DECADÊNCIA DAS CONQUISTAS

DECADÊNCIA DAS CONQUISTAS estou um nó neste lugar o que é     ocasião de me ver em grande aperto e por este respeito todo o meu     pensamento e o que mais sendo sério pude entesourar de tal contingência     que por mim mesmo resolvi tentar meu exílio tem de largo e comprido     a medida de uma vida sem paz quando mudei o tempo concedeu-me     alma nova pois nela não havia mais que pastor de gado sem remanso     que fica preso à terra e à família e faz vistagrossa a outras terras     e outras borrascas para as quais as gentes de mar vão em amanhecendo     a pontos onde ninguém com sinais agora acho-me num destes pontos     e espanto o quanto posso a ponta de arrependimento que me chaga     e embrulha-me semelhante a onda tive vista de muitos desesperos      moribund...

ÉPITAPHE

VILLON, François n. 1431  EPITÁFIO aqui neste lugar jaz e dorme alguém que Amor fulminou com flecha, um escolar pequeno e pobre. nome: françois villon. vilão, a pecha. não teve nunca escritura de terra. doou tudo, o vulgo comenta à larga: cestos, pães, estrados, mesas. comparsas, dizei esta versalhada:  Rondeau Repouso eterno seja dado a este, Senhor, e claridade desmedida, pois em vida bolso sempre raso teve e no seu prato coisas mal cosidas. rente cortaram-lhe a barba nascente, como a um nabo que se rapa a película. repouso eterno seja dado a este. Rigor o forçou ao exílio, como se peste, e esfolou-lhe a bunda de pelica, não obstante haver dito ele, à risca: “eu apelo!”, termo de fácil exegese. repouso eterno seja dado a este. ÉPITAPHE Ci gist et dort en ce sollier, Qu’amours occist de son raillon, Ung povre petit escollier, Qui fut nommé françois villon. Oncques de terre n’ot sillon. Il donna tout, chascun le scet: ...