Já há alguns anos — não muitos — o poeta português Luís Serguilha vem tentando, numa espécie de périplo, se situar tanto poética como criticamente no embate às vezes encarniçado da poesia contemporânea brasileira. Durante este período relativamente exíguo, atravessando como forasteiro interessado as quizilas e fronteiras estaduais do país, Serguilha já escreveu textos de teor literário e de intervenção cultural para livros, sites e revistas especializadas, e, do mesmo modo, participou de encontros e debates em Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Paraná e São Paulo junto dos seus companheiros de geração do lado cá do Atlântico. De outra parte, aspectos da sua obra propriamente criativa começam a ser objeto de análises de alguns poetas-críticos e acadêmicos brasileiros. Seu ponto de partida na tensão de traçar algumas linhas de força dessa série poética é, de um lado, eclético, e, de outro, interessado em demarcar eventos de linguagem que apontem para uma intrínseca transgressão seja de forma, seja de cosmogonia. Não se pode perder de vista que esses elementos se encontram também na base da própria poética de Luís Serguilha, cuja apetência pelas perspectivas da hibridação, por visões de mundo libertadoras e experimentos escriturais localizados para além do normativo, o incitam, ao fim e ao cabo, a se apresentar como um interlocutor voraz em peregrinação quase messiânica em busca dessas “batidas” singulares.
VILLON, François n. 1431 EPITÁFIO aqui neste lugar jaz e dorme alguém que Amor fulminou com flecha, um escolar pequeno e pobre. nome: françois villon. vilão, a pecha. não teve nunca escritura de terra. doou tudo, o vulgo comenta à larga: cestos, pães, estrados, mesas. comparsas, dizei esta versalhada: Rondeau Repouso eterno seja dado a este, Senhor, e claridade desmedida, pois em vida bolso sempre raso teve e no seu prato coisas mal cosidas. rente cortaram-lhe a barba nascente, como a um nabo que se rapa a película. repouso eterno seja dado a este. Rigor o forçou ao exílio, como se peste, e esfolou-lhe a bunda de pelica, não obstante haver dito ele, à risca: “eu apelo!”, termo de fácil exegese. repouso eterno seja dado a este. ÉPITAPHE Ci gist et dort en ce sollier, Qu’amours occist de son raillon, Ung povre petit escollier, Qui fut nommé françois villon. Oncques de terre n’ot sillon. Il donna tout, chascun le scet: ...
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Aproveito a sorte de estar aqui em seu blog e lhe convido para opinar em meu trabalho que já dura quase três meses (O Diário de Bronson).
Abraço do Jefhcardoso do http://jefhcardoso.blogspot.com