Skip to main content

o traficante de versos







Poema em quadras ao gosto popular composto de versos em redondilha menor (5 sílabas) de Guimarães Rosa. Até aí, tudo bem, pois ele também era poeta. A curiosidade é que Rosa deixou esse poemeto escondido ou dissimulado num parágrafo da novela “O burrinho pedrês”, incluída em Sagarana (1937). O romancista usa as vírgulas para indicar os cortes dos versos. Logo abaixo das estrofes desentranhadas por mim (imaginei essa disposição em quatro quartetos), o parágrafo tal como aparece na integridade textual da novela.


As ancas balançam,
e as vagas de dorsos,
das vacas e touros,
batendo com as caudas,

mugindo no meio,
na massa embolada,
com atritos de couros,
estralos de guampas,

estrondos e baques,
e o berro queixoso
do gado junqueira,
de chifres imensos,

com muita tristeza,
saudades dos campos,
querência dos pastos
de lá do sertão.


As ancas balançam, e as vagas de dorsos, das vacas e touros, batendo com as caudas, mugindo no meio, na massa embolada, com atritos de couros, estralos de guampas, estrondos e baques, e o berro queixoso do gado junqueira, de chifres imensos, com muita tristeza, saudades dos campos, querência dos pastos de lá do sertão...”

Comments

Popular posts from this blog

antipoema para a literatura branca brasileira

  por uma literatura de várzea por uma literatura lavada de notas de pé de página por uma literatura sem seguidores por uma literatura não endogâmica por uma literatura infiel à realidade por uma literatura impertinente por uma literatura não poética por uma literatura que não capitule à noção de "obra", acúmulo de feitos por uma literatura que não seja o corolário de oficinas de escrita criativa por uma literatura que não sucumba à chapa de que o menos é mais por uma literatura desobediente ao mercado livreiro-editorial por uma literatura imprudente por uma literatura sem cacoetes, isto é, o oposto do que faz mia couto por uma literatura que não se confunda com o ativismo de facebook por uma literatura que não seja imprescindível por uma literatura sem literatos por uma literatura, como disse uma vez lezama, livre dos tarados protetores das letras por uma literatura sem mediadores de leitura por uma literatura não inspirada em filósofos fr...

DECADÊNCIA DAS CONQUISTAS

DECADÊNCIA DAS CONQUISTAS estou um nó neste lugar o que é     ocasião de me ver em grande aperto e por este respeito todo o meu     pensamento e o que mais sendo sério pude entesourar de tal contingência     que por mim mesmo resolvi tentar meu exílio tem de largo e comprido     a medida de uma vida sem paz quando mudei o tempo concedeu-me     alma nova pois nela não havia mais que pastor de gado sem remanso     que fica preso à terra e à família e faz vistagrossa a outras terras     e outras borrascas para as quais as gentes de mar vão em amanhecendo     a pontos onde ninguém com sinais agora acho-me num destes pontos     e espanto o quanto posso a ponta de arrependimento que me chaga     e embrulha-me semelhante a onda tive vista de muitos desesperos      moribund...

35 anos depois, poemas

[primeira redação: 1985; duas ou três alterações: 2020]   1 espelho verde não se sabe de onde parte a vontade do vento confins com os quais o vento confina   2 um paraíso entre uma ramagem e outra e uma outra e imagens que não se imaginam por isso um paraíso   3 marcolini amigo este cálix (quieto) este cálix é um breve estribrilho um confim um paraíso uma música uma náusea                                                                                                ...