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leva um livro pra praia


A convite dos editores do Segundo Caderno do jornal Zero Hora (RS), eu e outros autores demos dicas de títulos para rir, para se emocionar e para refletir durante o descanso nesse período de férias. Para quem quiser conferir todas as indicações de livros vá para  http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/cultura-e-lazer/segundo-caderno/noticia/2013/01/escritores-sugerem-livros-para-as-ferias-3998826.html

Essas são as minhas dicas:



Rir: Memórias póstumas de Brás Cubas de Machado de Assis

Memórias póstumas de Brás Cubas é um livro extremamente divertido ou um cruel divertissement bem ao estilo do século 19. Mas, para quem não sabe, o humor de Machado de Assis não tem nenhuma relação com esse da inflação do stand-up cuja gargalhada é reacionária e nada inventiva, humor fácil que reproduz todos os preconceitos naturalizados e que se submete ao vale-tudo de fazer rir doa a quem doer. O humor autoirônico de Machado não é o do “atendimento ao cliente”. Vejam, por exemplo, como o autor defunto conclui o prólogo ao leitor de suas memórias póstumas: “A obra em si mesma é tudo: se te agradar, fino leitor, pago-me da tarefa; se te não agradar, pago-te com um piparote, e adeus”. Um clássico perverso, crítico.




Emocionar: Estrela de tarde de Manuel Bandeira

Jorge Luis Borges defende a ideia de que para além do ritmo, a forma tipográfica do verso serve para anunciar ao leitor que a emoção poética, não a informação ou o raciocínio, é o que o espera. Concordo em parte com Borges, pois podemos admitir que a poesia, por outro lado, se faz apenas com palavras.  A emoção é figurada. Mas, quando se trata da poesia de Manuel Bandeira, não consigo deixar a emoção de lado. Então, minha dica de leitura é Estrela da tarde (1963), livro onde o poeta enquanto se prepara para a morte ainda mantém viva a curiosidade juvenil realizando com radicalidade uma série de poemas concretos e experimentais.




Refletir: Minima Moralia de Theodor W. Adorno

O filósofo da esquerda alemã judia e antifascista, criador da Escola de Frankfurt, não propõe, como o título desse livro talvez sugira, nenhuma espécie de aconselhamento ético mínimo. Adorno não trata diretamente da questão de como podemos alcançar a vida boa, verdadeira; ele nos convida, antes, a fazer a crítica da vida falsa. Se a questão é o estímulo à reflexão, acredito que Minima Moralia tem tudo para nos levar a tal situação. Dois aforismos do filósofo para despertar o apetite do leitor em férias: “Um alemão é uma pessoa que não consegue dizer uma mentira sem acreditar nela”; e “Somente são verdadeiras as ideias que não se compreendem a si próprias”.

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