Quando leio os poemas (as tiradas)
de Paulo Leminski é como se eu estivesse lendo poemas de poetas da minha e da
geração subsequente tal é a facilidade com que essa poesia se oferece à
imitação. Afinal, quem joga com quem? Mas há algo de mórbido ou de
fantasmagórico nisso, porque – admitindo que o ar esteja efetivamente viciado –
parece que Leminski é que posa como o diluidor deles. Uma originalidade tão
pavimentada quanto exausta.
VILLON, François n. 1431 EPITÁFIO aqui neste lugar jaz e dorme alguém que Amor fulminou com flecha, um escolar pequeno e pobre. nome: françois villon. vilão, a pecha. não teve nunca escritura de terra. doou tudo, o vulgo comenta à larga: cestos, pães, estrados, mesas. comparsas, dizei esta versalhada: Rondeau Repouso eterno seja dado a este, Senhor, e claridade desmedida, pois em vida bolso sempre raso teve e no seu prato coisas mal cosidas. rente cortaram-lhe a barba nascente, como a um nabo que se rapa a película. repouso eterno seja dado a este. Rigor o forçou ao exílio, como se peste, e esfolou-lhe a bunda de pelica, não obstante haver dito ele, à risca: “eu apelo!”, termo de fácil exegese. repouso eterno seja dado a este. ÉPITAPHE Ci gist et dort en ce sollier, Qu’amours occist de son raillon, Ung povre petit escollier, Qui fut nommé françois villon. Oncques de terre n’ot sillon. Il donna tout, chascun le scet: ...

Comments