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depois é tarde



Depois da excessiva caridade interpretativa dispensada ao gesto (tido e havido como antropofágico) de Daniel Alves e, de resto, a contrapelo das motivações - segundo o próprio jogador -, casuais e quase evangélicas que o levaram a cometê-lo;

depois de o debate sobre o preconceito racial quase ter se transformado num quadro do Zorra Total ou do Esquenta, graças à adesão festiva dos macacos brancos,  tanto os célebres, como os não célebres, à estúpida hashtag;

depois de o cinismo ideológico da atitude classe média apresentar a devoração da banana como um gesto superior às denúncias e aos discursos contra o racismo (já que estes teriam se tornado monótonos), por ser inovador e não indicar mácula de irritação, mas, sim, de maturidade e de espírito transcendente;

depois de o torcedor-quem do Villareal, autor do ato contra o jogador Daniel Alves, ter sido exemplarmente punido (seus ingressos para a temporada foram suspensos e seu acesso ao Estádio El Madrigal foi permanentemente proibido: nossa!);


depois...

Comments

Miriam Alves said…
Depois do depois as UPPs continuam o genocídio. As aporaç´~oes do caso Claudia e Amarildo não dão em nada estão silenciados, a mãe do DG é ameaçada de morte. Um jornal desqualifica a vida do DG e as conclusões da mãe dele sobre o assassinato do filho. Depois nos continuamos a nossa vida e luta por um pais que nós respeite como cidadãos porque não somos macacos.#nãosomosmacacos. E só a maioria branca acha divertido comer bananas em frente das webcams.

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