Skip to main content

Em defesa do Fabrício




O torcedor de futebol não merece respeito. Ele é racista, homofóbico, misógino. O torcedor é covarde. Sua suposta valentia se deve à multidão da qual ela se nutre e na qual está imersa e protegida. Ele é um pequeno déspota. O torcedor é uma criança grande e mimada, isto é, um sem-educação que não sabe lidar com o revés ou com a frustração. Ofensivo, intimidador, desrespeitoso, são alguns dos predicados do torcedor. O torcedor é um crente de uma religião de bárbaros. O torcedor é um problema social. Ele não pensa, apenas reage. O torcedor não sabe fazer distinções. O torcedor é um tremendo acidente na direção do bom futebol.

O foco do meu comentário é essa coisa chamada "torcedor", não é o Fabrício, ele mesmo, o objeto do meu interesse. No quadro dos fatos futebolísticos a atitude do jogador talvez nem deva ser encarada como uma excepcionalidade, mas ela está sendo tratada como tal em prejuízo daquilo que de fato interessa, ou seja, o problema do intolerável e crescente destempero do torcedor que naturalizamos com o nosso cinismo risonho.

Torcedor e jogador não são uma e a mesma coisa, se isso fosse verdade, e graças a uma fabulosa empatia, eles se entenderiam na riqueza e na pobreza dos desempenhos e resultados. O que me espanta, mas nem tanto, é a dificuldade em fazer o movimento da autorreflexão com relação ao torcedor, afinal de contas, somos, cada um de nós, uma instância dessa figura. Na verdade, apontar para o Fabrício é melhor do que se reconhecer, ainda que brevemente, como esse torcedor irracional (não importa o clube) que está sempre à beira de fazer e de falar merda diante do menor revés relacionado ao seu pathos, isto é, um grupo de 11 caras brincando com uma bola.

Comments

Popular posts from this blog

nepotismo!

Amaralina Dinka, minha filha caçula de 11 anos, escreveu seu primeiro poema e me pediu para publicá-lo aqui no blog. Ela quer receber críticas e comentários. A MOCINHA FELIZ Eu acordei bem sapeca Parecendo uma peteca Fui direto pra cozinha Tomar meu café na caneca Na escola eu aprendi A multiplicar No recreio fui brincar Cheguei em casa Subi a escada Escorreguei, Caí no chão Mas não chorei Na hora de jantar Tomei meu chá Na minha janela Vi uma mulher tagarela.

de lambuja, um poema traduzido

Ivy G. Wilson Ayo A. Coly Introduction Callaloo Volume 30, Number 2, Spring 2007 Special Issue: Callaloo and the Cultures and Letters of the Black Diaspora.To employ the term diaspora in black cultural studies now is equal parts imperative and elusive. In the wake of recent forceful critiques of nationalism, the diaspora has increasingly come to be understood as a concept—indeed, almost a discourse formation unto itself—that allows for, if not mandates, modes of analysis that are comparative, transnational, global in their perspective. And Callaloo, as a journal of African Diaspora arts and letters, might justly be understood to have a particular relationship to this mandate. For this special issue, we have tried to assemble pieces where the phrase diaspora can find little refuge as a self-reflexive term—a maneuver that seeks to destabilize the facile prefigurations of the word in our current critical vocabulary, where its invocation has too often become idiomatic. More critically, we ...

antipoema para a literatura branca brasileira

  por uma literatura de várzea por uma literatura lavada de notas de pé de página por uma literatura sem seguidores por uma literatura não endogâmica por uma literatura infiel à realidade por uma literatura impertinente por uma literatura não poética por uma literatura que não capitule à noção de "obra", acúmulo de feitos por uma literatura que não seja o corolário de oficinas de escrita criativa por uma literatura que não sucumba à chapa de que o menos é mais por uma literatura desobediente ao mercado livreiro-editorial por uma literatura imprudente por uma literatura sem cacoetes, isto é, o oposto do que faz mia couto por uma literatura que não se confunda com o ativismo de facebook por uma literatura que não seja imprescindível por uma literatura sem literatos por uma literatura, como disse uma vez lezama, livre dos tarados protetores das letras por uma literatura sem mediadores de leitura por uma literatura não inspirada em filósofos fr...