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um rap só e mais nenhum




nem de longe eu entendo o que me vem à cabeça
o silêncio sem ideia é alta recompensa
a minha tara a minha manha é sempre comburente
eu não lavo minhas mãos nem com água ardente
não me venha com deus-me-acuda se o poema aperta
a palavra tem dois lados turbulenta moeda
gira e rola pomba-gira e dá pra todo mundo
felizberto joão-gostoso diná raimundo
todos eles dão de mão em poesia pouca
essa gente cai por cima e vai dormir de touca
desenrolo minha língua pra lamber o pandeiro
meu dicionário brasil é num estranho brasileiro
meu discurso não tem cabo nem sequer validade
atravessa rio na cheia o centro da cidade
trova a traça muda o modo do som tagarela
escurece logo as coisas antes da novela
quer dizer e diz que nem sempre atinge o alvo
mas entende a balaca-cadillac do olavo
que verbera por respeito no meio da praça
onde putas e columbas dão o ar da sua graça
onde a bíblia encardida berra ultima verba
onde o olho encara o sol e mergulha na treva
onde muitas arábias na sola do dia-a-dia
onde a língua é esfolada nas vergonhas da poesia



[circa 2004]

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