Skip to main content

não é bem poesia, mas tudo bem

foto: daniela montano




letra de música não é bem poesia. sempre lanço mão de uma comparação para tentar clarificar minha opinião a respeito do assunto (mas sei que ao fim e ao cabo a recepção é que terá a última palavra sobre o que quer que seja, e, ultimamente, como a hibridação é uma vaga avassaladora a levar e lavar tudo de roldão, é natural aceitar que a poesia tenha se deixado seqüestrar pela mpb e seus devotos, além disso, os poetas se sentem desinflados porque sua visibilidade está longe daquela experimentada pelos compositores populares...), continuando, a comparação é a seguinte: a poesia está para a letra de música (palavra voando e inextrincável da melodia) assim como o teatro está para o cinema. é inegável que há um parentesco entre essas formas artísticas, mas cada uma tem a sua semiótica. elas se encontram (em algum lugar), mas não se confundem. agora, para encerrar de um modo bem tosco o que, a rigor, mal começou: acho que os poetas, de uns tempos para cá, começaram a se intrometer demais nas coisas da música popular, querem levar o debate para o andar de cima, para a "cobertura". eles é que falam em caetano, chico, paul mccartney, arnaldo antunes, etc. mas, onde andam, e onde entram nessa discussão os letristas-músicos "menos" cultivados e geniais, o pessoal da “laje”, como, p.ex., ismael silva, nelson cavaquinho, candeia, zé keti, tim maia, antonio marcos, e outros, hein? tá, alguém, chegando num passo acelerado, dirá que “eles são poetas também!”. an-han... mas, aí eu passo. deu pra bola. um homem só não é temido nem estimado.

Comments

MoScha said…
Eu também acho, que há uma certa confusão entre letra de música e poesia. Sobretudo quando se ouve falar em "poetas da MPB". O problema é que um poeta per si dificilmente se torna "popular" o suficiente para chegar a influenciar um compositor de música popular. Por isso acho o seu texto bem pertinente e toca num tema muito importante.
Unknown said…
Eu não concordo não. Mas fazer o quê, né? Pra te falar a verdade, minha opinião eu tenho nem sei bem por quê. É uma opinião, como todas as opiniões, baseada em experiência, coisa a que um argumento dificilmente pode se sobrepor. O máximo que posso fazer é trocar minha experiência de poeta e músico com você. Tenho um projeto de poesias musicadas aqui: poesiafadada.vox.com e um outro de poesia-intervenção-urbana aqui: poesiafora.blogspot.com. Se tiver tempo e interesse, dê uma passada. Abraço.
Cândido Rolim said…
valeu a sacada, Ronald. talvez seja o tipo de classificação conceitual que faz essas duas "instâncias" andarem juntas com certa "trejeito sem jeito". curioso como a letra de música, mesmo valendo-se de procedimentos poéticos já grisalhos, ainda arrecada sua tantas vezes merecida simpatia. ousaria atribuir isso às ferramentas outras de que dispõe o músico compositor. mas, penso, pelo sim pelo não, não seria essa performance, em si, que autorizaria algum desses nomes que normalmente tem transito livre nos dois andares a falar com propriedade sobre todas as coisas, incluindo aí, a própria arte que aparentemente domina com genialidade e também com alguma impostura.
Judô e Poesia said…
Acabei de sair de Poesia-pau e após breve lapso de virtualidsde, pouso aqui, coincidência, não, favoritos em ordem alfabética. Abraços. Domingos.
Beatriz said…
Acabei de chegar. Pramim letra de poesia pode ser letra de música.
ainda que o chico buarque diga- não vejo como falsa modéstia, não- que ele é um letrista, vejo-o poeta. E dos bons.

Letra de música, à vezes é poema, às vezes não.

gostei de tudo aqui.
Pretendo voltar. Dewscobri o blog, vc e seus leitores foi muito bom.
abraços gerais

Bea- Compulsão Diária

Popular posts from this blog

nepotismo!

Amaralina Dinka, minha filha caçula de 11 anos, escreveu seu primeiro poema e me pediu para publicá-lo aqui no blog. Ela quer receber críticas e comentários. A MOCINHA FELIZ Eu acordei bem sapeca Parecendo uma peteca Fui direto pra cozinha Tomar meu café na caneca Na escola eu aprendi A multiplicar No recreio fui brincar Cheguei em casa Subi a escada Escorreguei, Caí no chão Mas não chorei Na hora de jantar Tomei meu chá Na minha janela Vi uma mulher tagarela.

de lambuja, um poema traduzido

Ivy G. Wilson Ayo A. Coly Introduction Callaloo Volume 30, Number 2, Spring 2007 Special Issue: Callaloo and the Cultures and Letters of the Black Diaspora.To employ the term diaspora in black cultural studies now is equal parts imperative and elusive. In the wake of recent forceful critiques of nationalism, the diaspora has increasingly come to be understood as a concept—indeed, almost a discourse formation unto itself—that allows for, if not mandates, modes of analysis that are comparative, transnational, global in their perspective. And Callaloo, as a journal of African Diaspora arts and letters, might justly be understood to have a particular relationship to this mandate. For this special issue, we have tried to assemble pieces where the phrase diaspora can find little refuge as a self-reflexive term—a maneuver that seeks to destabilize the facile prefigurations of the word in our current critical vocabulary, where its invocation has too often become idiomatic. More critically, we ...

antipoema para a literatura branca brasileira

  por uma literatura de várzea por uma literatura lavada de notas de pé de página por uma literatura sem seguidores por uma literatura não endogâmica por uma literatura infiel à realidade por uma literatura impertinente por uma literatura não poética por uma literatura que não capitule à noção de "obra", acúmulo de feitos por uma literatura que não seja o corolário de oficinas de escrita criativa por uma literatura que não sucumba à chapa de que o menos é mais por uma literatura desobediente ao mercado livreiro-editorial por uma literatura imprudente por uma literatura sem cacoetes, isto é, o oposto do que faz mia couto por uma literatura que não se confunda com o ativismo de facebook por uma literatura que não seja imprescindível por uma literatura sem literatos por uma literatura, como disse uma vez lezama, livre dos tarados protetores das letras por uma literatura sem mediadores de leitura por uma literatura não inspirada em filósofos fr...