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a caminho





1

à custa de uma ideia rebaixada
não logrei mais do que este entardecer
e esta aldeia de áscuas sujas à exaustão

diante de suas portas – sem número
determinado, seguramente mais do que duas,
com o obséquio de não ultrapassar uma dezena –
uma luzerna feroz
sorriso bramoso no quadrículo do guichê
cuspo de barítono trifauce
que esbarra o andar de quem vem

deparar sem aviso do lado de lá do farpado
a visão da piranha que nos há parido sua sombra gaiata
desprovida de sombra
ainda não é o mais duro ou coroável
matar saudade e soledade
abraçando-se três vezes (reiteração) a todo o seu
vazio de morta
ainda não é o que mais pode o hades

esta aldeia que se presta a tigela escura
ideografia onde a animalha ínfera vem beber
do meu remorso
infuso no caldo da indesejada deia das gentes


2

ao apartar a cunha da árvore
o verde debaixo das unhas
intérprete do rugitar de oito sílabas
no côvado de lado da velha cantica

inciso o ouvido porfioso
pérfido quando em revista
passa a commedia
ao modo de vaudeville






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