A afirmação segundo a
qual a literatura se esgotou ou se resolve, hoje, nessa trama de
reconhecimentos recíprocos do facebook, me parece uma generalização indevida;
trata-se de afirmação recorrente (o genérico da aposta em um quadro de falência
de algo) que agora dá as caras mais uma vez e, como de hábito, costumizada aqui
e ali. Felizmente, a literatura é coisa muito mais complexa. Sou da opinião,
inclusive, de que ela não se confunde nem com o mercado editorial, nem com as
redes sociais. Podemos estabelecer relações entre essas realidades, podemos até
mesmo sucumbir circunstancialmente diante de certo estado de coisas, mas tanto
o mercado, como o facebook, são segundos em relação à literatura. Isto é, devem
ou deveriam ser coadjuvantes no processo. Na década de 1950 os poetas concretos
(ou ao menos três deles) deram por encerrado “o ciclo histórico do verso”.
Recentemente alguém decretou o fim da história. Alguns artistas e/ou fast thinkers têm essa mania de tentar
projetar seus próprios dilemas (ou aquilo que diz respeito apenas à sua
perplexidade mais íntima) no quadro espiritual do tempo em que vivem. Fecha a
conta e passemos à próxima questão.
VILLON, François n. 1431 EPITÁFIO aqui neste lugar jaz e dorme alguém que Amor fulminou com flecha, um escolar pequeno e pobre. nome: françois villon. vilão, a pecha. não teve nunca escritura de terra. doou tudo, o vulgo comenta à larga: cestos, pães, estrados, mesas. comparsas, dizei esta versalhada: Rondeau Repouso eterno seja dado a este, Senhor, e claridade desmedida, pois em vida bolso sempre raso teve e no seu prato coisas mal cosidas. rente cortaram-lhe a barba nascente, como a um nabo que se rapa a película. repouso eterno seja dado a este. Rigor o forçou ao exílio, como se peste, e esfolou-lhe a bunda de pelica, não obstante haver dito ele, à risca: “eu apelo!”, termo de fácil exegese. repouso eterno seja dado a este. ÉPITAPHE Ci gist et dort en ce sollier, Qu’amours occist de son raillon, Ung povre petit escollier, Qui fut nommé françois villon. Oncques de terre n’ot sillon. Il donna tout, chascun le scet: ...
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