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conversa com um despachante

conversa com um despachante não vale mais reiterar que o brasil é um país jovem que nossa democracia ainda se apresenta frágil porque nossa história é recente e periférica e infante e o que mais você quiser enfiar no escopo comparada às velhas democracias a nossa seria adolescente (o discurso dos patriotas grisalhos) não vale mais insistir nessa coisa, infanção o brasil é um país ultrapassado envelheceu a contrapelo dessa juventude de fachada festejada como um traço essencial do gênio da nação o brasil não envelheceu agora com o golpe, não sua velhice chegou já há algum tempo e chegou arrastando os predicados de sempre levando à esquerda e à direita a resignação a retórica o acordo a negociação a teimosia a autoridade a estabilidade o medo o frio a formalidade o controle o brasil envelheceu socialmente envelheceu politicamente o velho golpista e seu governo formam a imagem perfeita dessa condição l...

indo para diamantina, 2016

entre montanhas o jequitinhonha serpeia exsurge às vezes a areia branca do leito depois o perpétuo eucalipto enquanto um quietar ventoso embrulha a intervalos o barulho de carros e caminhões ladeados pelo barro carmim que sobe as encostas

jazz bruto: o cálculo do acaso

                                          [ https://www.galeria33.com/karl  ] jazz bruto: o cálculo do acaso as naves pictóricas de fernando karl nos facultam o mais íntimo maroceano decupado no transe de plano e contra-plano exigido ao écran : a determinação para o fortuito o olho sempiterno que se deixa mirar por entre as lâminas da espessura o desenho com intenção alfabética mais negaceio que promessa ou melhor o desenho musical ou ainda a metáfora obsessiva da música calada que gosto de vislumbrar na pintura do poeta fernando karl na poesia do pintor fernando karl os lances fictos os fastos brutos de sua pintura (clave de leitura) jazzística tempestade de um poeta diserto

um, dois, três poemas

mais que tropeço sanhudo a onda rompe o próprio centro para produzir esse acorde áspero e forte bem acima sem que se dê por isso jungidas ao azul recurvo nuvens num turbilhão talhado   surdo 03 de fevereiro de 2012 o marido velho à sombra fulva desses sentimentos de amor a testa — fruto ácido e fungível que oscila — se inclina forçado em suplícios que o fatigam medita a música calada e irascível de uma meia confissão que lhe sai ao preço de ficta vulgaridade 04 de fevereiro de 2012 pânicas umbelas de beira- praia (três verões mais tarde) embicadas contra o barbatanear do vento uma pálpebra de luz ( pano ligeiro) dessigila a realidade mais à mão                                      05 de fevereiro de 2012 ...

o barato e o bará

ao debate

“me convidam para um debate por causa da minha literatura ou por que sou negro?” quando convidam um escritor não-negro para participar de uma mesa, aparentemente é por causa da sua literatura; porém ele é convidado justamente por ser não-negro, porque ele é um igual, porque não é considerado um corpo estranho, porque os envolvidos querem se reconhecer no sujeito que vai palestrar para eles; talvez tudo aconteça desse jeito, isto é, sem que ninguém desse círculo de mesmidades pense a respeito, por simples e cruel inércia; talvez. quando convidam um escritor negro para um debate é por causa de sua literatura e porque ele é um sujeito que combate o racismo onde quer que se apresente. quando convidam um escritor negro para compor uma mesa apenas por causa de sua obra, é porque nem ele nem a curadoria sabem que se trata de um negro.

a caminho

1 à custa de uma ideia rebaixada não logrei mais do que este entardecer e esta aldeia de áscuas sujas à exaustão diante de suas portas – sem número determinado, seguramente mais do que duas, com o obséquio de não ultrapassar uma dezena – uma luzerna feroz sorriso bramoso no quadrículo do guichê cuspo de barítono trifauce que esbarra o andar de quem vem deparar sem aviso do lado de lá do farpado a visão da piranha que nos há parido sua sombra gaiata desprovida de sombra ainda não é o mais duro ou coroável matar saudade e soledade abraçando-se três vezes (reiteração) a todo o seu vazio de morta ainda não é o que mais pode o hades esta aldeia que se presta a tigela escura ideografia onde a animalha ínfera vem beber do meu remorso infuso no caldo da indesejada deia das gentes 2 ao apartar a cunha da árvore o verde debaixo das unhas intérprete do rugitar de oito sílabas no côvado de lado da velha cantica inci...