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em defesa da arte

by augusto de campos leda tenório da motta Leda Tenório da Motta rebate crítica de Sergio Miceli que, com quase 25 anos de atraso, reprisa as censuras feitas por Roberto Schwarz ao poema “pós-tudo” de Augusto de Campos. A seguir, alguns trechos do excelente artigo, cuja íntegra se encontra em: http://sibila.com.br/index.php/critica/722-literatura-sociedade-e-cinismo-em-sergio-miceli “ De fato, é preciso um grau a mais de inadvertência em poética para escrever, como Miceli escreve, que Max Bense já não nos deveria interessar agora que o concretismo “está em baixa”. Um movimento estético em baixa? Que maneira é essa de falar? Estaria o autor de A noite da madrinha – livro reputado entre comunicólogos sociais, que versa sobre programas de auditório – importando diretamente das mídias padrões de medição? Se essa rudeza no trato vem a calhar, porque dá testemunho das possibilidades do crítico, nem por isso nos dispensamos de corrigir o que é também uma falha de informaçã...

signos transatlânticos

prisca agustoni e eu, juiz de fora, 2008 Doutoranda em Letras da PUC Minas, Prisca Rita Augustoni de Almeida Pereira foi premiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), órgão do Ministério da Educação (MEC), pela melhor tese na área de Letras / Lingüística do País. O trabalho é intitulado Atlântico em movimento: travessia, trânsito e transferência de signos entre África e Brasil na poesia contemporânea em língua portuguesa. O Prêmio Capes de Tese 2008 será entregue no dia 22 de julho, em Brasília. O Prêmio Capes de Tese concede, desde 2005, distinção às melhores teses de doutorado defendidas e aprovadas nos cursos reconhecidos pelo Ministério da Educação (MEC) de todo o País, considerando-se os critérios de qualidade e originalidade. O trabalho é selecionado em cada uma das áreas de conhecimento. Sob a orientação da professora Maria Nazareth Soares Fonseca, o trabalho baseou-se nos signos simbólicos que foram trazidos pelos africanos para o “Novo Mund...

um lance de baudelaire

baudelaire, charles, 1821-1867 Do observatório de sua mansarda, Baudelaire estreita a modernidade em suas mãos. Sobre o vazio papel defendido pela brancura, ele exercita a sós e ao mesmo tempo embebido dos estereótipos da rua (pois será preciso tropicar “sur les mots comme sur les pavês” para que suas alegorias se tornem menos rarefeitas), o mundo da sua linguagem que, não obstante seja crítica com relação aos discursos cobertos de “pátina poética”, simula evadir-se enquanto tenta recusar a linguagem tumultuária, “le bric-à-brac confus”, de um mundo de passagens, prosaico e derrisório que, a contrapelo, encontra nele o seu maior tradutor e comentarista: Je ne vois qu’en esprit tout ce camp de baraques, Ces tas de chapiteaux ébauchés et de fûts, Les herbes, les gros blocs verdis par l’eau des flaques, Et, brillant aux carreux, le bric-à-brac confus. (...) Paris change! mais rien dans ma mélancolie N’a bougé! palais neufs, échafaudages, blocs, Vieux faubourgs, tout pour moi devient allég...

um poema visual

kânhamo, 1987

dois poemas de manuel bandeira

O bicho Vi ontem um bicho Na imundície do pátio Catando comida entre os detritos. Quando achava alguma coisa, Não examinava nem cheirava: Engolia com voracidade. O bicho não era um cão, Não era um gato, Não era um rato. O bicho, meu Deus, era um homem. No poema “O bicho”, Manuel Bandeira recorta a silhueta de um bicho “Na imundície do pátio/ Catando comida entre os detritos”. Num exame mais cerrado, descarnado de qualificativos poeticamente corretos, o poeta começa a ajustar o foco da sua máquina verbal de produzir efeitos, e numa progressão de enquadramentos, partindo desde o mais difuso até o mais nítido e duro, nota que “O bicho não era um cão,/ Não era um gato,/ Não era um rato.” O desenlace do poema, que não chega a surpreender - acho inclusive que essa possibilidade nem é a que mais interessa a Manuel Bandeira -, nos diz que o bicho “era um homem”, ou que o bicho fora um homem. Com efeito, o poeta não se surpreende com tal metamorfose regressiva (notar a degrada...

não é bem poesia, mas tudo bem

foto: daniela montano letra de música não é bem poesia. sempre lanço mão de uma comparação para tentar clarificar minha opinião a respeito do assunto (mas sei que ao fim e ao cabo a recepção é que terá a última palavra sobre o que quer que seja, e, ultimamente, como a hibridação é uma vaga avassaladora a levar e lavar tudo de roldão, é natural aceitar que a poesia tenha se deixado seqüestrar pela mpb e seus devotos, além disso, os poetas se sentem desinflados porque sua visibilidade está longe daquela experimentada pelos compositores populares...), continuando, a comparação é a seguinte: a poesia está para a letra de música (palavra voando e inextrincável da melodia) assim como o teatro está para o cinema. é inegável que há um parentesco entre essas formas artísticas, mas cada uma tem a sua semiótica. elas se encontram (em algum lugar), mas não se confundem. agora, para encerrar de um modo bem tosco o que, a rigor, mal começou: acho que os poetas, de uns tempos para cá, começar...

novos lançamentos da editora éblis

cecília borges, autora de dente de leão A Editora Éblis ( http://www.editoraeblis.com/ ) abre o ano de 2009 com dois lançamentos: Dente de leão, de Cecília Borges e Congo negro, do poeta norte-americano Vachel Lindsay. Dente de leão é o sexto título da bem-sucedida coleção poesia e o segundo livro de Cecília Borges, mineira que reside no Rio de Janeiro. Trata-se de um conjunto de 25 poemas onde o feminino, por um viés felizmente auto-irônico, articula-se a partir de uma série de takes que alternam cenas intimistas e o cotidiano dos cenários urbanos, boêmios e litorâneos até, todos marcadamente cariocas. Cecília une tais cenas e cenários, mostrando-os como formas de linguagem de desejos, fracassos e pequenas vitórias formando e deformando um sujeito que ruma em direção à vida, mesmo quando esta não corre a seu favor, lembrando, neste ponto, a trilogia das cores de Krzysztof Kieslowski. Desvelando espaços da intimidade numa certa "crônica da vida privada", o sujeito poético que...